Marina Silva tem evitado assumir sua candidatura
presidencial com uma elasticidade curiosa. A atitude soa estranha para quem fez
da filiação ao PSB uma pequena apoteose propagandística, justamente com essa
finalidade. Inclusive porque contraria as pesquisas de opinião e a expectativa
maciça dos grandes veículos.
A esquiva é até compreensível no âmbito da
política tradicional. Qualquer candidato evita expor-se precipitadamente ao
desgaste de imagem, virando um alvo comum dos adversários. E a escolha ainda
precisa amadurecer dentro do próprio PSB, que até poucos meses atrás vinha
trabalhando com um cenário bastante diverso.
Mas o fato é que Marina caiu numa armadilha quando
se jogou no circo laudatório da mídia oposicionista. Depois de construir a
muito custo a imagem de símbolo de um fazer político renovado e alternativo, a
ex-senadora mergulhou no espetáculo partidário mais trivial e carcomido. Passada
a festa, descobriu que a ressaca lhe impõe a decepção do eleitorado jovem, a amargura
dos antigos aliados e, muitíssimo pior, a exigência de uma cumplicidade
irrevogável com os piores ninhos demotucanos do país.
Ela aceitará dividir o palanque com Geraldo
Alckmin? Com a turma das propinas? E como explicará o apoio das oligarquias
nordestinas que sustentam Eduardo Campos?
Por essas e outras, não seria muito surpreendente
se a sensibilidade e o espírito público (sem contar o instinto de preservação)
forçassem Marina a um recuo estratégico de suas pretensões eleitorais
imediatas. A hipótese ainda soa improvável, mas as incoerências da personagem
não autorizam grandes certezas para os meses vindouros.
Por enquanto, resta-nos a diversão de assistir
Marina Silva rendendo-se ao pragmatismo velho de guerra.
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