Um tema central na obra de Martin Scorsese: o vício
nas suas mais diversas formas e efeitos. Não há concessões ao bom-gosto ou à
moralidade. Sexo, drogas, poder, dinheiro, humilhações diversas e muito, muito
cinismo desfilam com variedade e intensidade que beiram o inverossímil. Saber
que o roteiro se baseia na autobiografia do protagonista, um mau-caráter
conhecido nos EUA, deixa tudo mais saboroso.
Comédia desvairada, politicamente incorreta ao
nível da apologia provocativa, com passagens de humor físico e hilariante
vulgaridade. Parte da platéia fica meio sem jeito, e outra, que entende a
proposta ou não está nem aí para as delicadezas contemporâneas, gargalha às
lágrimas. É muito salutar que esse tipo de projeto receba o toque de um mestre
como Scorsese, com o ritmo, o apuro técnico e (vá lá) o refinamento que os seus
trabalhos possuem. E a trilha sonora.
Composição visceral de Leonardo DiCaprio, que deve
lhe render o devido reconhecimento da tal Academia. Mas é no elenco de apoio
que reside o grande tesouro do filme. Principalmente Jonah Hill, soberbo,
irresistível em cada aparição. E o veterano diretor Rob Reiner, surpreendentemente
histriônico e repulsivo. E também Spike Jonze (outro ótimo diretor), que tem
uma aparição tão breve quanto impagável.
Não é o melhor de Scorsese, claro, mas prova uma
versatilidade e uma coragem que poucos dispõem nesses tempos quadradinhos, limpinhos e pudicos.
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