Philip Seymour Hoffman (1967–2014) tinha uma versatilidade
rara nos atores hollywoodianos. Abraçou com igual desenvoltura as produções
mais variadas, de comédias despretensiosas até dramalhões pesados, passando
pelo arriscado mimetismo das figuras reais. Mas seus melhores momentos são os
de personagens ambíguos, aos quais o ator se entregava com energia e coragem inigualáveis:
“O Mestre”, principalmente, mas também “Antes que o diabo saiba que você está morto” (com um viés autobiográfico que hoje parece assombroso).
Eduardo Coutinho (1933-2014) foi dos maiores
documentaristas da história. Nome
à altura de Frederick Wiseman, Albert Maysles, Robert Drew, Jean
Rouch, Chris Marker. Superou
muitos mestres, porém, ao assimilar procedimentos narrativos das grandes
escolas históricas, juntando a observação, a participação, a reflexão e até a performance
vanguardista, e mesmo assim desembocando num estilo absolutamente pessoal e
insubstituível. Revolucionou a abordagem das entrevistas e chacoalhou os
paradigmas do gênero documental, ao romper os limites entre realidade e ficção.
Duas perdas quase simultâneas, parecidas no
absurdo, que acabam de esvaziar um pouco o universo do cinema. Ambas nos levam
a indagar se a arte está fadada a sucumbir à fragilidade da vida ou se é esta,
com todos os seus limites e tormentos, que absorve a grandeza imaterial da
primeira. Restam-nos as obras e umas perguntas que elas jamais responderão.
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