O pedido da CPI dos Pedágios esperou três anos na
fila da Assembléia Legislativa de São Paulo. O governo Geraldo Alckmin e seus
asseclas recorreram às mais ridículas manobras para postergar a votação. Agora passou.
Vai dar em nada? Provavelmente.
Primeiro porque o objetivo da comissão se
restringe a “investigar se os valores das tarifas cobrados pelas
concessionárias nas rodovias paulistas estão em consonância com os critérios
definidos nos editais de licitação, propostas e contratos firmados e com a lei
federal que rege as concessões de obras e serviços públicos”.
Ora, até eu, que sou bobo, redijo “editais,
propostas e contratos” permitindo a cobrança de qualquer valor, por mais
abusivo que seja. Houve real concorrência nos leilões? Os valores cobrados são
justificáveis? As concessionárias têm participação nas empresas que lhes fornecem
matérias-primas e serviços? Como eles são contratados? As verdadeiras perguntas
sobre o tema escapam à abrangência um tanto simplória da CPI.
O segundo motivo para pessimismo advém da presença
maciça de tucanos e aliados na composição da mesa. O presidente da comissão é,
pasmem, Bruno Covas. Que só foi eleito ao cargo porque a maioria dos deputados
pertence à base governista. Nessas condições é quase impossível se aprovar um
relatório digno.
Terceiro: a CPI tende a se transformar numa
espécie de segredo midiático. Ao contrário do que ocorre, por exemplo, com o
factóide Pasadena, a imprensa corporativa não gastará o menor perdigoto para
divulgar os trabalhos, principalmente ao longo da Copa do Mundo, que deverá
interrompê-los. O recente esforço da Folha de São Paulo em caracterizar a
administração Alckmin como vítima das concessionárias anuncia o viés futuro do
noticiário. Na pior das hipóteses, tudo será culpa de Cláudio Lembo.
Um bom começo para averiguação, aliás, é essa
jogada marqueteira do governo, “cobrando” valores pagos indevidamente aos
cartéis da dinheirama. Vinte anos depois de iniciada a farra, sob longo e
insistente clamor público, só agora Alckmin decidiu vestir a fantasia de
justiceiro. Mas de onde o governo retirou a convicção de que existe algo errado
nos contratos, se os trabalhos da CPI sequer foram iniciados? E por que não agiram
antes?
Se os nobres deputados conseguirem responder a
essas duas singelas perguntas, já não teremos o desperdício total de mais uma
oportunidade para derrubar o esquema dos pedágios mais caros do país. E tem
cara de ser a última.
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