quarta-feira, 28 de maio de 2014

Chantagens e chantagens

 

quem procure justificar a ocorrência de protestos de cunho social às vésperas da Copa do Mundo ou no seu transcurso. Não seria chantagem, mas senso de oportunidade.

Acho que esse raciocínio depende de algumas ponderações morais e práticas sobre a proporcionalidade dos esforços frente aos objetivos alcançados, os efeitos colaterais das decisões, o alicerce legal, a legitimidade política, etc. A adesão incondicional à idéia de que os fins justificam os meios produz muitas armadilhas para os incautos.

A paralisação dos motoristas de ônibus em São Paulo é exemplar. Se endossarmos o pragmatismo oportunista de qualquer manifestação, precisaremos aceitar também esse transtorno ilegal, provocado por facções rivais de sindicatos, com aparência de locaute (pressão empresarial para aumentar as tarifas) e suspeitas de simples bandidagem, que as autoridades policiais só toleram porque são usadas num jogo político-eleitoral.

Não bastam apenas estratégias eficazes: elas precisam ser reconhecidamente as mais adequadas (ou as únicas disponíveis) nas circunstâncias. Há muitas formas de pressionar os empresários sem causar prejuízos incalculáveis a milhões de cidadãos. Liberar catracas, por exemplo, ou impedir a entrada e a saída dos administradores nas sedes dos gabinetes e das companhias. Mas, claro, quando verdadeiramente atingidos, os patrões chamam a polícia e tudo acaba rapidinho.

A verdade incontornável que os apologistas da moda protestante ignoram é que existem limites éticos e legais para o exercício dos soberanos direitos à greve e à manifestação pública. Aplaudir uma dúzia de gatos pingados fechando a avenida Paulista por qualquer causa obscura serve como incentivo para a desmoralização das verdadeiras lutas sociais. Depois, quando populares começarem a sair no tapa com os grevistas, vão reclamar do “conservadorismo” do brasileiro.

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