segunda-feira, 2 de junho de 2014

A fuga de Barbosa
















A imagem pública de Joaquim Barbosa vem há meses indicando um desgaste que qualquer consultor diagnosticaria com facilidade. Um paralelo razoável o aproxima desses vilões periódicos do noticiário obtuso, personagens de popularidade fácil que se desmoralizam aos poucos até que uma desfaçatez mais abusiva os transforma em bodes expiatórios das mazelas gerais.

Onipresente, foco de expectativas irrealizáveis, agregador de prerrogativas alheias, Barbosa ganhou estatura supra-institucional que ultrapassou a conveniente fantasia de justiceiro. Dele já se esperava uma ubiqüidade moralizante sobre todas as esferas de poder, ou pelo menos do problemático Judiciário, que a muitos parece apenas um feudo sob sua gerência. Cada prescrição de crime, cada absolvição de bandido, cada erro cometido pelas cortes mais afastadas do país representam máculas na indevida presunção popular de que o presidente do STF poderia evitá-los.

Barbosa passou a ser contestado pela maioria dos colegas de tribunal, especialmente os que ali permanecerão depois do seu mandato presidencial, obrigados a administrar certas heranças doutrinárias que deixarão de fazer sentido em circunstâncias menos inflamadas. O verborrágico ministro também causou indisposição nos magistrados das cortes inferiores, em setores poderosos do Direito e nos próprios veículos de comunicação que o endeusaram.

Quanto mais se discute o julgamento dos chamados “mensaleiros” petistas, mais clara e escandalosa ficam a politização e as falhas técnicas dos inquéritos que o embasaram. A negação de direitos e tratamento humanitário aos condenados escancarou o destempero de Barbosa, expondo a sua fragilidade na hipótese do veredicto sofrer revisão da corte ou de entidades internacionais. Ainda falta, aliás, os protagonistas do “mensalão”tucano serem inocentados, o que certamente ocorrerá.
  
A ameaça de adesão do MST aos protestos contra as arbitrariedades de Barbosa (com o beneplácito “insuspeito” da CNBB e da OAB) anuncia uma turbulência inédita, de resultados imprevisíveis, que pode trazer o Judiciário para o foco das insatisfações reformistas. Prestes a amargar uma posição coadjuvante no tribunal, o magistrado viraria alvo fácil dos ataques. E há quem suspeite que sua reputação não sobreviveria ao conhecimento público de certos episódios que o envolveram.

Joaquim Barbosa afasta-se para fugir das conseqüências de seus próprios atos. Justo ele.

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