quarta-feira, 25 de junho de 2014

Palavrão limpinho















É difícil abordar os xingamentos a Dilma Rousseff sem repetir as condenações ao espírito jeca e boçal de certas castas privilegiadas cujo padrão ético se baseia no esculacho e na patifaria. Causa algum incômodo, porém, o reiterado esforço para despolitizar a atitude, como se ela fosse vazia de intencionalidades e cargas simbólicas.

Toda ação pública possui sentidos políticos, e ofender uma autoridade governamental revela um posicionamento ideológico indiscutível. Não apenas pela iniciativa de repúdio, pois o vocabulário, o contexto, a ocasião e a vítima seguem escolhas militantes cheias de significados. Então por que os comentaristas procuram ignorar esses sinais?

Na superfície notamos o receio de vitimização da presidenta, aliado à vergonha diante do repertório intelectual oposicionista. Mas arrisco sugerir que também existe aí o temor inconfesso de que o grau de organização das brutalidades ultrapasse a utopia conveniente de um gesto espontâneo dos grupos ignóbeis. A eventual descoberta de que o ritual grotesco nasceu numa articulação do submundo partidário é bastante assustadora para que ninguém se aventure a sequer especulá-la.

Mas, claro, se a turma exigisse, durante uma cerimônia importante, a sodomia de Geraldo Alckmin ou Aécio Neves, o jornalismo civilizado já teria descoberto mil e uma conspirações. Até mesmo as plausíveis.

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