segunda-feira, 28 de julho de 2014

A ditadura que eles querem






















As turbulências em torno das detenções de manifestantes levaram certos analistas políticos a tratá-los como heróis libertários, supostas vítimas dos arbítrios do malvado governo petista. Trata-se de uma perigosa inversão de valores.

A legalidade das prisões deve ser cobrada do Judiciário, fonte cotidiana de equívocos e abusos que amiúde trazem a marca da politização, do revanchismo e do pendor ao espetáculo midiático. Alguns petistas acabam de ter suas vidas destruídas por altos membros desse Poder.

Mas os desvios judiciais não desqualificam a necessária punição aos black blocs, nem representam ataques às liberdades democráticas. A criminalização dos protestos violentos começa na Constituição Federal. Ali consta o veto à máscara, à destruição do patrimônio e ao bloqueio surpreendente de vias públicas. A base jurídica dos inquéritos é sólida, portanto, e dispensa abstrações ideológicas.

A espinhosa e longeva discussão sobre a legitimidade de certos atos criminosos remete ao conceito de “desobediência civil”, importante na resistência a Estados totalitários e a normas inaceitáveis cuja mudança parece impossível em determinados ambientes. Seria esse o caso dos black blocs? Há que ache que sim.
           
Discordo humildemente. O problema incontornável da questão reside no objetivo a ser alcançado pelo dano material ou simbólico impingido a terceiros. O vandalismo não atende às necessidades básicas de sobrevivência. Não há rocambole conceitual que transforme a destruição de patrimônio em direito individual a ser preservado.

Se aceitarmos que a violência estatal justifica reações descontextualizadas (sem causa direta e imediata), precisaremos tolerar que o vandalismo hipotético ou já havido sirva de pretexto para episódios gratuitos de brutalidade fardada. O esforço para preservar o Estado de direito deve ser o mesmo quando ele é afrontado por instituições, empresas, grupos organizados ou indivíduos.

Essa não é uma luta entre mocinhos e bandidos. Assim como a incompetência das forças policiais possui conveniência político-eleitoral, também o descalabro judicial precisa ser visto com enormes reservas. O mito propagandístico da “ditadura petista” une os interesses dos black blocs e os das forças conservadoras que outrora os glorificavam e hoje contribuem para sua vitimização. Quanto mais arbitrário o tratamento conferido aos manifestantes violentos, mais estimulados e fortalecidos eles ficam.

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