Publicado no Brasil 247
Aconteceu de novo. Um gol legítimo da
Ponte Preta foi anulado e o time perdeu a vaga na semifinal do Campeonato Paulista
para o Corinthians. O lance não apresentava dificuldade, nem exigia interpretação.
Tampouco bloqueou uma jogada com desenlace imprevisível. A bola entrou, de
maneira límpida e incontroversa.
Os responsáveis pela arbitragem justificaram o
prejuízo irremediável dizendo que “o erro faz parte do jogo”. Acontece que todo
ano ocorrem “acidentes” parecidos. Sempre favorecendo os times
poderosos, em decisões com equipes menos privilegiadas. É impossível acreditar
em casualidade.
A CBF e suas representações estaduais manipulam descaradamente
os campeonatos que organizam. No sistema de pontos corridos, repassando (muito) mais dinheiro da TV aos seus favoritos. Nas disputas eliminatórias, escalando
juízes e auxiliares que “erram” contra adversários indefesos. Não há recursos
possíveis às vítimas.
As instâncias capazes de influir nos resultados de
jogos e torneios estão sob controle dos clubes das capitais, através de seu
poder nas federações. É como se as disputas de certo ramo corporativo fossem
fiscalizadas por funcionários das maiores empresas.
Isso parece aceitável apenas no futebol
brasileiro, visto como atividade menor, folclórica, indigna de obrigações com a
legalidade. Repetindo o vício usual nas relações de consumo, abandona-se
o esporte num limbo jurídico, onde torcedores, atletas e agremiações não têm
qualquer proteção contra o cartel em exercício.
A imprensa possui grande responsabilidade na
legitimação do esquema. Porque endossa a mentira do equívoco inocente. Porque
evita fazer levantamentos estatísticos das lambanças das arbitragens.
E principalmente porque subestima o problema, ignorando-o nas suas bravatas moralistas.
Não faltam propostas viáveis para amenizar o
problema. O recurso visual, por exemplo, corriqueiro em diversas modalidades.
Mas o ideal seria quebrar o domínio da CBF e das federações sobre a arbitragem,
pelo menos concedendo aos times o direito de fugir dos conchavos regionais. Ou
alguém acredita que a Ponte passaria pelo São Paulo nas semifinais da Copa
Sulamericana de 2013 se os árbitros fossem brasileiros?
Qualquer projeto digno de moralização do
futebol precisa coibir esse absurdo ancestral e reincidente que pereniza o
poder de uma elite corrupta. Chega de tratar a injustiça desportiva como algo
fortuito ou natural. Antes que percamos de vez a capacidade de nos indignarmos.
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