segunda-feira, 20 de abril de 2015

A arbitragem é o retrato do nosso futebol


















Publicado no Brasil 247

Aconteceu de novo. Um gol legítimo da Ponte Preta foi anulado e o time perdeu a vaga na semifinal do Campeonato Paulista para o Corinthians. O lance não apresentava dificuldade, nem exigia interpretação. Tampouco bloqueou uma jogada com desenlace imprevisível. A bola entrou, de maneira límpida e incontroversa.

Os responsáveis pela arbitragem justificaram o prejuízo irremediável dizendo que “o erro faz parte do jogo”. Acontece que todo ano ocorrem “acidentes” parecidos. Sempre favorecendo os times poderosos, em decisões com equipes menos privilegiadas. É impossível acreditar em casualidade.

A CBF e suas representações estaduais manipulam descaradamente os campeonatos que organizam. No sistema de pontos corridos, repassando (muito) mais dinheiro da TV aos seus favoritos. Nas disputas eliminatórias, escalando juízes e auxiliares que “erram” contra adversários indefesos. Não há recursos possíveis às vítimas.

As instâncias capazes de influir nos resultados de jogos e torneios estão sob controle dos clubes das capitais, através de seu poder nas federações. É como se as disputas de certo ramo corporativo fossem fiscalizadas por funcionários das maiores empresas.

Isso parece aceitável apenas no futebol brasileiro, visto como atividade menor, folclórica, indigna de obrigações com a legalidade. Repetindo o vício usual nas relações de consumo, abandona-se o esporte num limbo jurídico, onde torcedores, atletas e agremiações não têm qualquer proteção contra o cartel em exercício.

A imprensa possui grande responsabilidade na legitimação do esquema. Porque endossa a mentira do equívoco inocente. Porque evita fazer levantamentos estatísticos das lambanças das arbitragens. E principalmente porque subestima o problema, ignorando-o nas suas bravatas moralistas.

Não faltam propostas viáveis para amenizar o problema. O recurso visual, por exemplo, corriqueiro em diversas modalidades. Mas o ideal seria quebrar o domínio da CBF e das federações sobre a arbitragem, pelo menos concedendo aos times o direito de fugir dos conchavos regionais. Ou alguém acredita que a Ponte passaria pelo São Paulo nas semifinais da Copa Sulamericana de 2013 se os árbitros fossem brasileiros?

Qualquer projeto digno de moralização do futebol precisa coibir esse absurdo ancestral e reincidente que pereniza o poder de uma elite corrupta. Chega de tratar a injustiça desportiva como algo fortuito ou natural. Antes que percamos de vez a capacidade de nos indignarmos.

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