Publicado no Brasil 247
As acusações frágeis e especulativas contra Lula
ficaram muito aquém do aporte logístico e dos custos financeiros, pessoais e
legais da Lava Jato. Depois de todas as arbitrariedades e devassas, submeter o
petista a juízo meramente político é uma constrangedora frustração de
expectativas.
Embora útil para aliviar a decepção com Sérgio
Moro e preparar o ataque a seu alvo principal, a prisão de Eduardo Cunha terá
efeitos colaterais. Além de envolver o inventor do golpe e o governo ilegítimo,
servirá como padrão comparativo para os delitos atribuídos a Lula, expondo a
afoiteza e a leviandade dos indiciamentos.
O sumiço de Rodrigo Janot, que garantiu a preservação inicial dos justiceiros, é sintoma da encruzilhada em que a
operação agora se encontra. O recuo da caça a Lula ficou impossível, mas seu desgaste
institucional beira os limites aceitos pelas cortes superiores, às quais
restará a dura tarefa de maquiar o caráter ideológico dos processos.
O cenário é desfavorável, portanto, à prisão de
Lula. Há o risco de transformá-lo em herói, anunciado nos paralelos com Nelson
Mandela, e de embates com a militância que confirmem a escalada repressiva
pós-golpe. A supressão dos seus direitos políticos ganhou status prioritário,
senão exclusivo, no projeto condenatório.
Os últimos episódios exibem a Lava Jato em fase
crítica, sob questionamentos externos e internos, atuando no limite da
legalidade para garimpar novos indícios que alterem o viés tendencioso das
denúncias contra Lula. E arrastando o fardo Cunha, com todo o estrago que ele
pode causar à moralidade nacional.
Por isso, a defesa de Lula deveria exigir, pública
e judicialmente, celeridade na tramitação dos processos. Já que a anulação está descartada, o adiamento indefinido só contribui para o desgaste público do réu e
para o oportunismo eleitoral da Lava Jato. Quanto mais cedo os casos avançarem,
menos previsíveis serão os seus desfechos.
Nesse quadro de embate político e narrativo, Lula
teria grandes benefícios tomando a atitude corajosa de se apresentar a
julgamento e denunciando a tática protelatória da Lava Jato. Colocaria os
algozes em posição desconfortável e reativa, tiraria deles o controle das
pautas jornalísticas e forçaria um debate indigesto sobre a operação.
Na hipótese mais radical, Moro aprisiona Lula,
retalia uma demanda legítima, ganha a pecha de incendiário e fabrica um mártir.
Na mais amena, comprova a suspeita de manobrar eleitoralmente e assume que não
tem elementos para condenar o petista. Em ambas as circunstâncias, Lula se
diferencia dos réus ilustres que ficarão associados ao inexorável derretimento
da Lava Jato.
5 comentários:
Na semana nacional da sandice, seu pensamento é uma luz nesse calabouço que tacaram a gente. Obrigada.
Na semana nacional da sandice, seu pensamento é uma luz nesse calabouço que tacaram a gente. Obrigada.
Oi Angela, eu que agradeço pelas palavras. Continue visitando e participando, ok? Abs
parabens
as vezes me sinto um Dom Quixote moderno vendo as iniquidades e lutando sozinho confortante ver que ainda existem pessoas lucidas que enxergam alem das sombras ilusorias das cavernas
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