O poder da mídia
Os grandes veículos de comunicação participaram de
duas maneiras no projeto golpista: dando unidade narrativa à pauta do
impeachment e atuando como agentes coercitivos sobre os parlamentares que o
materializaram.
A primeira estratégia pode ser resumida na
construção de certo catastrofismo antipetista centrado em temas fortes como a corrupção, a crise econômica e o estelionato eleitoral. Em todos os casos,
seguiu-se um padrão de conciliar o viés tendencioso do noticiário com o
opinionismo ativista, alimentados mutuamente por enunciados comuns.
O moralismo seletivo, o terror econômico e a inédita
preocupação com os eleitores criaram uma simbologia meritória para o
impeachment. A ideia era amenizar o caráter fisiológico e hipócrita do golpe, dando
enredo ao teatro salvacionista dos parlamentares. A falsa base jurídica do
processo, com o suposto aval do STF, teve função similar.
A segunda estratégia lidou com a face
propagandística do amplo empreendimento público e privado das passeatas pelo
impeachment. Ali as corporações midiáticas empenharam todas as suas ferramentas
mobilizadoras: divulgação de agendas, pautas temáticas, entrevistas com
organizadores, artigos deles próprios, incentivos diversos.
O sucesso do projeto exerceu influência óbvia nos
votos pelo impeachment, sob o rótulo enganoso “vontade popular”. Mas a pressão
teve também um viés chantagista, pois mostrou o poder destrutivo da mídia
contra seus desafetos. Muito do apoio ao golpe no Congresso brotou do receio de
uma exposição negativa de quem o rejeitasse.
A imprensa funcionou como elo interinstitucional
para a agenda golpista. Constituiu o mais valioso agente do impeachment fora do
Legislativo, permitindo às outras esferas um grau de interferência que elas não
poderiam exercer de maneira direta, por limitações técnicas, legais e mesmo
éticas.
Não por acaso, o grande beneficiário dessa atuação
foi o antipetismo judicial, que assumidamente calca sua estratégia na
instrumentalização da mídia. A aliança dos veículos com a Lava Jato conheceu desvios
clandestinos, amiúde francamente ilegais (e impunes), que produziram alguns dos
momentos decisivos do golpe.
Tal arranjo de interesses aponta para um viés conspiratório
que derruba as falsas aparências de “normalidade democrática” do impeachment. O
oportunismo fisiológico de senadores e deputados foi o reflexo previsível do conluio
imoral que já havia naturalizado o arbítrio junto à opinião pública.
A série “Balanço do golpe”:
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