Retorno de Oliver Stone à dramatização de episódios
políticos. Obra relevante para os debates sobre a suposta neutralidade da
tecnologia de comunicação, as estratégias hegemônicas dos EUA e o exercício das
liberdades individuais nesse país.
As seguidas menções ao Brasil e o aparecimento fugaz de
Dilma Rousseff trazem um perceptível incômodo à plateia, forçada a sair
brevemente do conforto evasivo. Dilma retratada como vítima, num produto
hollywoodiano, diante de uma sala quase lotada de shopping, tem sua cota de
ironia.
Gosto de pensar que parte da audiência, pesquisando o caso, conhecerá
Glenn Greenwald, um dos jornalistas procurados por Edward Snowden. Greenwald,
que hoje mora no Rio de Janeiro, é dos mais ardorosos críticos do golpe
parlamentar que derrubou Dilma.
Quanto ao filme, tenho dúvidas sobre as opções narrativas de
Stone, que parece mais empenhado na sedução pedagógica do que na linguagem
cinematográfica. Apesar do esmero na condução do suspense, o diretor não iguala
o dinamismo e o arrojo de seus melhores trabalhos.
E continuo vendo algo de pueril no escândalo, que surpreende
apenas quem acreditava nas boas intenções dos órgãos de inteligência dos EUA. A
ênfase na revelação corre o risco de simplificar demais o caso, esquecendo, por
exemplo, a estrutura político-judicial que legaliza a espionagem de civis e transforma
seus delatores em criminosos.
Noutras circunstâncias, Joseph Gordon-Levitt concorreria ao
Oscar, mesmo sem chances ou merecimento de vitória. Mas talvez não seja um bom
momento para a Academia lembrar passagens negativas do governo Barack Obama.
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