sexta-feira, 18 de novembro de 2016

“Snowden”



Retorno de Oliver Stone à dramatização de episódios políticos. Obra relevante para os debates sobre a suposta neutralidade da tecnologia de comunicação, as estratégias hegemônicas dos EUA e o exercício das liberdades individuais nesse país.

As seguidas menções ao Brasil e o aparecimento fugaz de Dilma Rousseff trazem um perceptível incômodo à plateia, forçada a sair brevemente do conforto evasivo. Dilma retratada como vítima, num produto hollywoodiano, diante de uma sala quase lotada de shopping, tem sua cota de ironia.

Gosto de pensar que parte da audiência, pesquisando o caso, conhecerá Glenn Greenwald, um dos jornalistas procurados por Edward Snowden. Greenwald, que hoje mora no Rio de Janeiro, é dos mais ardorosos críticos do golpe parlamentar que derrubou Dilma.

Quanto ao filme, tenho dúvidas sobre as opções narrativas de Stone, que parece mais empenhado na sedução pedagógica do que na linguagem cinematográfica. Apesar do esmero na condução do suspense, o diretor não iguala o dinamismo e o arrojo de seus melhores trabalhos.

E continuo vendo algo de pueril no escândalo, que surpreende apenas quem acreditava nas boas intenções dos órgãos de inteligência dos EUA. A ênfase na revelação corre o risco de simplificar demais o caso, esquecendo, por exemplo, a estrutura político-judicial que legaliza a espionagem de civis e transforma seus delatores em criminosos.   

Noutras circunstâncias, Joseph Gordon-Levitt concorreria ao Oscar, mesmo sem chances ou merecimento de vitória. Mas talvez não seja um bom momento para a Academia lembrar passagens negativas do governo Barack Obama.

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