segunda-feira, 30 de julho de 2018
Bloco do golpe nasce para enfrentar o lulismo
Havia meses a direita brasileira preparava sua fuga para o “centro” imaginário do espectro eleitoral. A ideia era se esconder sob uma candidatura que dissimulasse os vínculos do grupo com o golpe, alvo de rejeição quase unânime. Com Jair Bolsonaro suavizando ideologicamente o grupo situacionista e empurrando Lula ao polo contrário, uma salvação moderada até que parecia atraente.
Enquanto o petista matinha chances de ser candidato, o pesadelo conservador residia em Lula adotar o perfil criado pela histeria midiática. Isso explica a veemência da reação contra os seus primeiros discursos apaziguadores, que mobilizou das rodas marinistas à revista Veja. Também ilumina a postura confrontativa do Judiciário contra o ex-presidente, provocação irresistível para alimentar sua imagem vingativa.
Marina Silva sempre incorporou a candidata dos sonhos do condomínio golpista. De origem popular e ideias conservadoras, favorável ao impeachment e à Lava Jato, adulada pela direita com perfumes progressistas, ela simboliza perfeitamente o imaginário envolvido na criação de uma alternativa aos extremos perigosos.
Contudo, patinando nas pesquisas, isolada no arco de alianças, com tempo irrisório de propaganda, Marina acabou perdendo até a mínima relevância necessária para esforços corretivos de suas fragilidades, como a tola mania de vitimização. Virou uma referência abstrata, um ideal a ser perseguido em cima de bases mais apropriadas.
Apesar do empenho quase ridículo, porém, as campanhas jornalísticas pela “Marina perfeita” frustraram-se a cada factoide. A sobrevivência política de Lula afugentou os aventureiros, levando o neocentrismo a repensar sua tática dissimuladora. Ganhava fôlego a ideia de assumir um lado na polarização, em vez de negá-la.
As enquetes fraudando cenários "Sem Lula" serviram de último teste para Marina. Provaram a sua inviabilidade (e também a de Ciro Gomes) ao mostrarem que a direita só chega ao segundo turno ocupando o lugar de Bolsonaro, não o do lulismo. E ninguém atrai o voto antipetista com posturas ambíguas e mistérios programáticos.
Os observadores surpresos que me perdoem, mas a união em torno de Geraldo Alckmin era bastante previsível. Faltava apenas a confirmação do potencial lulista para que seus maiores adversários se organizassem, reeditando o arranjo do golpe. O objetivo é impedir que o PT antagonize com o fascismo na etapa final.
O bloco “Direitão” (“Golpão” para os íntimos) demonstra que os profissionais do ramo consideram a influência de Lula um fator decisivo na disputa sucessória. E, talvez mais importante, que a estratégia petista passou a nortear as mobilizações alheias.
Não é uma candidatura prestes a ser impugnada que provoca atrasos nos planos dos competidores, mudanças de discurso, realinhamentos e mistérios. Tampouco o improvável respeito do TSE a prazos e jurisprudências que arranca seguidos vexames ideológicos do Regime de Exceção.
Ninguém ali acredita que Lula será candidato.
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