quinta-feira, 21 de junho de 2018

Pesquisa "Sem Lula" é fraude




O destaque dado pelo último Datafolha à viabilidade de Marina Silva foi malicioso. O instituto não se esforçou de fato em medir o possível comportamento do eleitorado nos cenários mais prováveis. Os 47% que poderiam votar no indicado por Lula desapareceram na inserção de outros petistas, abrindo uma lacuna imensa no conjunto probabilístico.

Essa disparidade tem origem metodológica: basta omitir o eventual apoio de Lula aos petistas incluídos nos cenários alternativos. O entrevistado vê apenas uma lista com os candidatos em cada situação. Como não há outro estímulo nessa rodada, os índices dependem do grau de reconhecimento de nomes e rostos. E, claro, Marina supera qualquer coadjuvante.

Mas boa parte dos eleitores de Lula saberá identificar o seu substituto através da propaganda gratuita e de eventos públicos, se já não o fizer pela simples repercussão do veto no TSE. A impugnação da candidatura jamais resultará na ausência completa do maior cabo eleitoral da campanha. "Sem Lula" constitui uma premissa vazia.

Em resumo, o Datafolha não apenas inflou as chances de Marina, mas também forjou o panorama idealizado pelo Regime Judicial de Exceção. Amenizou o alcance do lulismo e amarrou uma enquete limpa de elementos que prejudicassem a candidata ou desagradassem as cortes soberanas. Escondeu as verdadeiras notícias.

Equilibrando os mesmos dados com uma influência verossímil de Lula (metade do potencial aferido), podemos imaginar um petista na liderança, pouco acima de Jair Bolsonaro, enquanto Ciro Gomes e Marina compartilham a terceira colocação dez pontos atrás. Não foi isso que o Datafolha quis divulgar, mas é o que seus números parciais sugerem.

O resultado soa particularmente ruim para Ciro. A pesquisa mostra que nem a neutralização artificial de Lula favorece o pedetista, complicando suas pretensões a unificador automático da esquerda. Mas ele também é prejudicado pelo silêncio em torno do eventual apoio de Lula, suficiente para tirar Marina do segundo turno (e das manchetes).

A principal consequência da omissão é justamente negar ao PT uma base ampla de informações que norteie suas estratégias. O instituto recusa ao partido os testes que realizaria com nomes conservadores se tivessem um aliado forte impedido de concorrer. Mas não deixa de fornecer indícios sobre o eleitorado que os setores antipetistas disputarão na etapa inicial.

Acontece que a tentativa de dissimular estatisticamente a força do lulismo implica admiti-la de antemão. Se tivesse dúvida sobre a viabilidade dos planos do PT, o Datafolha buscaria submeter suas candidaturas a todas as provas possíveis. Não o faz porque sabe a resposta, como quem ignora um fato consumado para elucidar as incertezas restantes.

Se o instituto dá como irreversíveis as chances petistas no primeiro turno e antecipa a derrota de Bolsonaro para o voto útil no segundo, o favorecimento de Marina ganha um viés curioso. Ao afirmar que ela é a única alternativa da direita moderada ao fantasma reacionário, o Datafolha antecipa o confronto de ambos. Afinal, só há uma vaga imediata a preencher.

Tudo indica, portanto, que a exposição desmedida e precoce da candidata constitui um laboratório visando a polarização decisiva da campanha. Com Lula, direta ou indiretamente, e sem Bolsonaro. Um cenário oposto àquele que serve de base para o Datafolha, revelando que seu marinismo, como de hábito, é bem menos ingênuo do que parece.

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