quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Réquiem para o Datafolha


Publicado na revista Caros Amigos em outubro de 2010.

As peculiaridades metodológicas do Datafolha sobressaíram nas primeiras pesquisas de 2010. Os entrevistadores selecionavam, em trânsito, apenas as pessoas que forneceram um número de telefone sujeito à confirmação. Além disso, não preparavam o entrevistado com informações sobre os candidatos a cargos executivos. Deve-se admitir que Mauro Paulino, o diretor do instituto, descobriu argumentos passáveis para tais excentricidades. Por exemplo, se alguém procura um registro instantâneo do comportamento do eleitorado, não faz sentido antecipar decisões, mesmo as inevitáveis.

Mas existem bases científicas e pretextos materiais em quase todo procedimento estatístico. Os profissionais da área dispõem de inúmeros estratagemas técnicos capazes de ocultar eventuais manipulações. Ademais, havendo necessidade, o Datafolha poderá rebaixar-se à humilhação de repercutir gradualmente projeções alheias, ou realizar aquela boca-de-urna apaziguadora. Não seria a primeira vez que veríamos o instituto vangloriar-se por acertos questionáveis.

Acontece que Paulino cometeu o erro fatal de supervalorizar a “reserva de credibilidade” da empresa. A confiança do público não é patrimônio que se recupera facilmente. E ela começou a desmoronar quando o instituto foi envolvido pelo programa ideológico da Folha de São Paulo. Além de operar em explícita sintonia com a campanha de José Serra, usou o tendencioso espaço opinativo do jornal para a autodefesa corporativa, esbanjando arrogância, muito característica da própria Folha, contra os justos questionamentos dos adversários.

Profissionais e instituições que embarcaram no oportunismo eleitoral da mídia corporativa serão arrastados por sua crise de legitimidade. Quando os projetos partidários definharem rumo à inevitável obsolescência, restará apenas uma legião de órfãos desmoralizados.

Nenhum comentário: