Negacionismo significa refutar o irrefutável. Não se restringe a violências e desastres naturais, tampouco aos círculos fascistas. Atinge as melhores famílias. E é exatamente a disseminação da patologia, nas mais diversas molduras discursivas, que singulariza a catástrofe brasileira.
Estatísticas, documentos auditados e textos legais provam que a Lava Jato cometeu delitos que elegeram Jair Bolsonaro. Não há margem racional para questionar a suspeição de Sérgio Moro nos processos contra Lula. Pois boa parte dos humanistas que chamam o presidente de genocida vê míseros “deslizes” na conspiração orquestrada por Moro. Aceita suas escusas.
Enquanto investiga a existência de ONGs incendiárias e bois bombeiros, a patrulha da objetividade adota convicções para a culpa de Lula. Os inimigos de “fake news”, implacáveis verificadores de currículos, palpites e estatísticas, jamais checaram a sentença de Moro. Não ousam falar em verdades e mentiras quando elas afetam eleições presidenciais.
Então disseminam-se as narrativas, em polarizações ociosas sobre a obviedade do óbvio. Num flanco, charlatões tornam “controverso” o aquecimento global. Noutro, chamam de “rigorosa” a decisão espúria do TRF-4 e de “positiva” a herança da Lava Jato. Na falsa equivalência entre opiniões sensatas e grotescas, o meio-termo gera um relativismo absoluto de hospício.
A cloroquina dos mitômanos solidários é o estado democrático de Direito. Menosprezando a “gripezinha” ditatorial, afirmam que as instituições resistem, pois são probas e saudáveis. O STF avalizou abusos explícitos que puseram um fascista na Presidência, mas salva o país do ataque imaginário que ele só ameaça. A vacina venenosa vai curar o paciente moribundo.
Os pessimistas da bolha naturalizam o retrocesso, como faz o bolsonarismo com a doença. Lula não passa de uma entre milhares de vítimas habituais do Judiciário. Ninguém está acima (dos abusos) da Lei. Se os direitos morrem diariamente, de causas numerosas e triviais, não há motivo para comoções quando eles sucumbem no privilégio de uma cela confortável e segura.
Indo na mesma linha generalizante, as teorias apocalípticas sobre a barbárie contemporânea diluem os atos de indivíduos notórios numa coletividade zumbi sem rostos nem culpas. Foram as engrenagens ardilosas do inimigo oculto que elegeram Bolsonaro, não simplesmente a armação judicial que desmoralizou, prendeu e censurou seu maior adversário.
Os negacionismos em voga não se espelham nos prejuízos que acarretam, e sim na covardia. Desde cedo esteve claro que a Cruzada Anticorrupção carregava um germe fascista. Moro passou anos sendo tratado como herói. Hoje, diante dos escândalos incontornáveis, seus fãs imitam Bolsonaro diante do morticínio: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”
Esse conformismo retórico é falacioso. Basta aplicar a Moro os mesmos critérios usados nas críticas a bolsonaristas. Enunciar as verdades sobre a prisão de Lula que independem de sua defesa, sem volteios eufemísticos ou elogios compensadores. Ligar os pontos até as eleições e classificar os seus resultados no mais científico rigor possível. Nomear as coisas como são.
Destruições e genocídios pertencem ao mesmo universo factual do golpe que fez o governo Bolsonaro ilegítimo e a Lava Jato um instrumento do avanço fascista. Em todos os casos, omitir a realidade é estratégia neutralizadora, uma performance de cegueira generalizada que normalize moralmente a inação. Nessa harmonia de farisaísmos o país ignora sua tragédia.
Estatísticas, documentos auditados e textos legais provam que a Lava Jato cometeu delitos que elegeram Jair Bolsonaro. Não há margem racional para questionar a suspeição de Sérgio Moro nos processos contra Lula. Pois boa parte dos humanistas que chamam o presidente de genocida vê míseros “deslizes” na conspiração orquestrada por Moro. Aceita suas escusas.
Enquanto investiga a existência de ONGs incendiárias e bois bombeiros, a patrulha da objetividade adota convicções para a culpa de Lula. Os inimigos de “fake news”, implacáveis verificadores de currículos, palpites e estatísticas, jamais checaram a sentença de Moro. Não ousam falar em verdades e mentiras quando elas afetam eleições presidenciais.
Então disseminam-se as narrativas, em polarizações ociosas sobre a obviedade do óbvio. Num flanco, charlatões tornam “controverso” o aquecimento global. Noutro, chamam de “rigorosa” a decisão espúria do TRF-4 e de “positiva” a herança da Lava Jato. Na falsa equivalência entre opiniões sensatas e grotescas, o meio-termo gera um relativismo absoluto de hospício.
A cloroquina dos mitômanos solidários é o estado democrático de Direito. Menosprezando a “gripezinha” ditatorial, afirmam que as instituições resistem, pois são probas e saudáveis. O STF avalizou abusos explícitos que puseram um fascista na Presidência, mas salva o país do ataque imaginário que ele só ameaça. A vacina venenosa vai curar o paciente moribundo.
Os pessimistas da bolha naturalizam o retrocesso, como faz o bolsonarismo com a doença. Lula não passa de uma entre milhares de vítimas habituais do Judiciário. Ninguém está acima (dos abusos) da Lei. Se os direitos morrem diariamente, de causas numerosas e triviais, não há motivo para comoções quando eles sucumbem no privilégio de uma cela confortável e segura.
Indo na mesma linha generalizante, as teorias apocalípticas sobre a barbárie contemporânea diluem os atos de indivíduos notórios numa coletividade zumbi sem rostos nem culpas. Foram as engrenagens ardilosas do inimigo oculto que elegeram Bolsonaro, não simplesmente a armação judicial que desmoralizou, prendeu e censurou seu maior adversário.
Os negacionismos em voga não se espelham nos prejuízos que acarretam, e sim na covardia. Desde cedo esteve claro que a Cruzada Anticorrupção carregava um germe fascista. Moro passou anos sendo tratado como herói. Hoje, diante dos escândalos incontornáveis, seus fãs imitam Bolsonaro diante do morticínio: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”
Esse conformismo retórico é falacioso. Basta aplicar a Moro os mesmos critérios usados nas críticas a bolsonaristas. Enunciar as verdades sobre a prisão de Lula que independem de sua defesa, sem volteios eufemísticos ou elogios compensadores. Ligar os pontos até as eleições e classificar os seus resultados no mais científico rigor possível. Nomear as coisas como são.
Destruições e genocídios pertencem ao mesmo universo factual do golpe que fez o governo Bolsonaro ilegítimo e a Lava Jato um instrumento do avanço fascista. Em todos os casos, omitir a realidade é estratégia neutralizadora, uma performance de cegueira generalizada que normalize moralmente a inação. Nessa harmonia de farisaísmos o país ignora sua tragédia.
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