Em meio a toda velharia, surgiu uma leve intenção de frescor na octogésima cerimônia de entrega do Oscar. Não surpreende que, em ano eleitoral, o bom-mocismo democrata dominasse a festa. Houve até uma importante quebra de protocolo, quando a cantora e compositora Marketa Irglova foi chamada de volta ao palco para terminar seu discurso de agradecimento. Até onde se sabe, isso jamais aconteceu.
O clima partidário pareceu evidente na ausência de astros reconhecidamente identificados com o conservadorismo, como Bruce Willis e Clint Eastwood. O apresentador Jon Stewart é um crítico tão radical de Bush que, em seu programa televisivo, às vezes esbarra no pernosticismo e na vulgaridade. Stewart comportou-se, mas usufruiu de um ótimo texto, que demonstrou a importância dos roteiristas para o sucesso desse tipo de evento. E a categoria retribuiu o apoio recebido por grande parte dos profissionais da indústria durante sua longa e tumultuada greve.
Esqueçamos por um momento todos os milhares de filmes que a Academia ignorou nas indicações. Entre as poucas opções disponíveis, o prêmio pode contemplar duas categorias de concorrentes: o melhor profissional, independente do filme em questão, e o melhor trabalho específico. Raramente ambas as qualidades coincidem.
Daniel Day-Lewis conseguiu-o. Mas Tilda Swinton, de longe a atriz coadjuvante mais capacitada, não venceu pela melhor atuação, que certamente foi a de Ruby Dee (“O gângster”). Tampouco o versátil Javier Bardem foi contemplado por merecimento pontual, que caberia a Tom Wilkinson (“Conduta de risco”). O lendário diretor de arte Dante Ferreti não igualou, em “Sweeney Todd”, seus concorrentes por “Desejo e reparação” e “O gângster”.
Ao contrário, Marion Cotillard não possui currículo igual ao de Julie Christie, Cate Blanchet e Laura Linney (as últimas, com Swinton, estão entre as melhores atrizes do cinema recente), mas sua interpretação de Edith Piaf é tão arrebatadora que a Academia curvou-se, contrariando precedentes.
Houve tristes injustiças. O austríaco “The couterfeiters” é talvez o mais burocrático dos filmes estrangeiros em disputa. E permanece alvo de controvérsias se o grande vitorioso da noite, “Onde os fracos não têm vez”, possui tantas qualidades. Os irmãos Coen já provaram sua genialidade em obras anteriores, mas aparentemente, desta vez, foram favorecidos pelo nível mediano dos concorrentes (com exceção de Paul Thomas Anderson, jovem demais para tamanha consagração).
Em resumo: novamente, o Oscar contemplou obras interessantes, mas que dificilmente seriam lembradas sem os prêmios recebidos. Porém, como já apontaram vários analistas, a cerimônia selou o sucesso de uma geração recente de inovadores e ao mesmo tempo anunciou uma saudável promessa de renovação.
Um comentário:
"surgiu uma leve intenção de frescor na octogésima cerimônia de entrega do Oscar": Eh mesmo! Foi totalmente imprevisivel! Um choque tremendo! Tanto quanto ver Castro ganhando o primeiro premio de melhor futuro presidente! Nossa!
Oh, "intencao", voce disse?
Uh, mmmmmmmmm... esquece...
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