Muito já foi escrito sobre a importância histórica da eleição de Barack Obama, e não há motivos para exageros. Convém relativizar as proporções da derrota republicana, conseqüência inevitável dos ruinosos governos Bush – uma sucessão de fracassos militares, estratégicos, geopolíticos, sociais, financeiros e administrativos que realizou a façanha de atrair a desaprovação generalizada.
O justificável fascínio da opinião pública internacional com a eleição de Obama gerou manifestações de americanismo e apologias ao mito do “país das oportunidades”. Mas a louvável novidade representada pelo presidente negro, jovem e progressista tende a ofuscar um aspecto emblemático da efeméride: ela só foi possível graças à superação de um sistema eleitoral antidemocrático e atrasado, que viola os princípios da representatividade.
A distorção máxima dessa estrutura é possibilitar, com a votação em bloco dos delegados estaduais, que um candidato seja eleito sem receber o maior número de votos populares. Os problemas, no entanto, antecedem o âmbito do Colégio Eleitoral. Respeitando um purismo federalista incompatível com o sufrágio em âmbito nacional, cada Estado possui regras eleitorais próprias. Muitas delas impedem ou dificultam o exercício do voto por jovens, pobres, minorias étnicas e imigrantes.
Os casos mais graves nasceram em iniciativas de parlamentares e governantes republicanos, atingindo grupos populacionais expressivos, tradicionalmente identificados com o partido democrata e com a plataforma inovadora de Obama. Restrições ao cadastramento de eleitores e ao voto de ex-presidiários costumam impedir o voto de quase 20% dos potenciais eleitores negros. Outros enormes contingentes, acuados por dificuldades de registro e pela desinformação, tendem a ignorar os pleitos.
Nas convenções partidárias, a máquina a serviço da família Clinton parecia imbatível, e muitos cogitaram um ressentimento autodestrutivo dos preteridos. Depois surgiram os factóides em torno da indicação de Sarah Palin, seguidos por uma campanha difamatória capaz de causar engulhos à súbita correção política da mídia paulistana. E, claro, sempre houve a ameaça latente do preconceito, num país de tradição racista, dominado por conservadores caucasianos e fundamentalistas cristãos.
Nada disso, entretanto, se compara ao maior adversário vencido por Barack Obama: o segregacionismo eleitoral, legalizado e institucionalizado, de flagrantes motivações étnico-sociais. O legado simbólico da nova gestão antecede seus resultados práticos e provavelmente os suplantará na posteridade.
6 comentários:
"O legado simbólico da nova gestão antecede seus resultados práticos e provavelmente os suplantará na posteridade."
Esse e o ponto nodal de qq análise sobre a eleição estadunidense. A esperança não se reconhece na vitória do político, mas na possibilidade de quebra na letargia da sociedade estadunidense.
Ao contrário do que ocorre aqui, nos EUA as instituições da sociedade civil tem força histórica que podem gerar uma pressão positiva sobre o futuro governo democrata, o que não ocorreu nos mandatos do Bush filho.
presidiario vota no Brasil?
ops...ex-presidiário?
Eu acho que por melhor que tenha sido a vitória do O bama, nunca podemos deixar de lado certos pontos. O mais importante é que ele é mais um imperialista safado que vai nos usurpar e a todo mundo. Não importando sua cor, afinal a cutis não tem nada haver com o carater.
E quem nos governa não é um símbolo, mas sim o homem. Por isso o Brasil ta comendo o pão que o Lula amassou. O povo não precisa de mais ícones, isso a igreja já da bastante (aliás isso é a única coisaque ela da), o negócio é ter gente para resolver o problema.
Preso temporário aguardando julgamento e condenado que já tenha cumprido sua pena tem direito a voto.
Felipe e Guilhermé, eis a súmula nove do TSE: "A suspensão de direitos políticos decorrente de condenação criminal transitada em julgado cessa com o cumprimento ou a extinção da pena, independendo de reabilitação ou de prova de reparação dos danos".
Abraços do
Guilherme
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