Publicado na revista Caros Amigos, em fevereiro de 2009.
O chamado “direito de existir” foi lembrado em todas as análises favoráveis ao ataque de Israel a Gaza. Simplificando, equivale a afirmar que o massacre de civis justifica-se quando um país alega defender a própria sobrevivência, combatendo inimigos que usam escudos humanos. Mas os defensores dos bombardeios trataram de impedir que essa lógica discutível beneficiasse os palestinos, pois a morte de assentados judeus também pareceria simples dano colateral de uma luta igualmente justa.
Nasce na concepção do Estado de Israel como fato consumado a fantasia de que a submissão ou o extermínio dos palestinos também são inexoráveis. Todo delírio de supremacia sionista será considerado legítimo porque o “direito de existir” converte-se em direito de destruir governos adversários e assassinar seus eleitores.
Nem o pesadelo do Holocausto nem a estupidez do anti-semitismo conferem estatuto inquestionável a qualquer aspiração israelense. A ocupação da Palestina por Israel permanece controversa, por mais que a comunidade judaica trate o assunto como favas contadas. Basta analisar mapas históricos para perceber no território israelense uma tendência expansionista, de motivação hegemônica e excludente, que contradiz as teses de defesa da soberania nacional.
E resta evidente que os acordos de paz não foram sabotados apenas pelo extremismo árabe. Israel aposta na perpetuação do impasse como pretexto para continuar impondo seu predomínio através da superioridade bélica. Por isso é tão conveniente disseminar a propaganda falaciosa de que a discórdia com os árabes tem origens milenares, atemporais: numa “guerra” inevitável, não há consensos possíveis ou tragédias a lamentar, apenas o triunfo do lado mais forte.
Basta interromper esse encadeamento vicioso de verdades estabelecidas para que o horror sanguinário desnude-se de mistificações, revelando a face cruel da hipocrisia.
Um comentário:
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