Gostaria de ter escrito esse filme. Meu “Crisálida” aborda uma temática parecida, a falta de perspectivas das classes médias, especialmente da juventude, e o conformismo no universo familiar. Flora, personagem do livro, tem muito da April vivida pela maravilhosa Kate Winslet. E seus dilemas, clássicos na inexorabilidade da tragédia, reproduzem o mesmo aprisionamento irresistível nas teias das convenções sociais e profissionais, o mesmo desperdício de sonhos e ideais, carcomidos pelas frustrações, pela pusilanimidade e pelo matrimônio.
Sam Mendes propõe uma reflexão mais ampla e consequente do que em “Beleza Americana” (1999), do qual este “Sonho” é complemento, quiçá uma espécie de prefácio. Situar a trama no passado, enriquecendo-a com personagens de diferentes idades, confere uma permanência atemporal à angústia da protagonista, insinuando que seu drama se repete de geração em geração, infinitamente.
Ainda o Oscar
“Quem quer ser um milionário?” venceu porque era o único dos concorrentes a possuir algum frescor temático e estético, aliado ao apelo emocional da trama e dos recentes atentados em Mumbai. A imitação de “Cidade de Deus” é evidente, sendo o filme brasileiro “melhor” em todos os aspectos. Danny Boyle soa desleal quando evita reconhecer a influência de Fernando Meirelles (que, a rigor, não detém qualquer propriedade sobre o visual reciclado no filme estadunidense).
O sentimentalismo à “Forrest Gump” de “Benjamin Button” parecia irresistível, mas trazia um viés étnico incômodo e a marca de um cineasta (o excelente David Fincher) dado ao sombrio e ao pessimista. “Button”, sob as aparências, é uma obra convencional e arrastada, embora mais autoral do que “Milionário”. Perdeu para um filme adequado à correção política e à lavagem de consciências iniciadas pelo fenômeno Barack Obama.
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