segunda-feira, 16 de março de 2009

O mistério de Aldo Moro

O seqüestro de Aldo Moro, seguido por seu assassinato, em 1978, permanece uma tragédia imersa em dúvidas e versões inconclusas. Ex-primeiro-ministro italiano, líder da Democracia Cristã, permaneceu quase dois meses em posse de uma célula das Brigadas Vermelhas, que exigiam a libertação de presos pertencentes ao movimento.
O governo de Giulio Andreotti (rival de Moro na DC) comportou-se de forma particularmente omissa, parecendo mesmo ter permitido a morte do grande líder. Informações sobre a localização do cativeiro foram desprezadas pelas autoridades, enquanto as negociações eram sistematicamente obstruídas.
A Itália vivia tempos tumultuados, reflexo dos antagonismos da Guerra Fria. Moro defendia a participação dos comunistas numa grande coalizão governamental, hipótese rechaçada pelo presidente, com apoio dos EUA. A repercussão do seqüestro e o clima de paranóia conservadora que se seguiu destruíram qualquer possibilidade de acordo com a esquerda, alinhando o país definitivamente às diretrizes de Washington.
Pesquisadores independentes consideram a operação um estratagema típico da Operação Gaudio, organização clandestina financiada pela Otan e destinada a promover ações terroristas na Itália e em outros países europeus, com o intuito de desmoralizar os movimentos de esquerda junto à opinião pública, induzindo os governos a combatê-los (a chamada “estratégia da tensão”).
Pelo menos um alto funcionário dos EUA já admitiu que o país no mínimo permitiu o martírio de Moro. Também há evidências de que as Brigadas Vermelhas foram infiltradas por informantes da CIA durante vários anos, com possível envolvimento do próprio dirigente Mario Moretti.
Um estudo consciencioso do episódio ajuda a evitar a comoção maniqueísta provocada pelo caso Cesare Battisti, para analisá-lo à luz da devida complexidade.

“Bom dia, noite”


Marco Bellochio dirigiu em 2003 um ótimo filme sobre o seqüestro. Não é a obra-prima que alguns enxergam, mas está acima dos congêneres, em geral melodramáticos e simplistas. Destaque para a inusitada inserção dramática da música “The great gig in the sky” (Pink Floyd) e para a interpretação magistral de Roberto Herlitzka no papel de Moro.

Um comentário:

Anônimo disse...

Finalmente uma análise realista da situação italiana na epoca das Brigadas Vermelhas... queriam o PCI longe do governo, e conseguiram (graças à Glaio, à CIA mas também às Brigadas Vermelhas que cairam no esquema e graças a personagens insignificantes mas "proveitosos" como o Battisti).