quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Memória: “Maconha”


Jornal Estado de São Paulo, 9 de fevereiro de 1997, página D12.

“Fede. Em algumas pessoas, dá um bode, um mal-estar enorme. Mas álcool também não cai bem em muita gente. O Jornal de Medicina da Nova Inglaterra publicou um editorial, semana passada, aprovando o uso de maconha para doentes com dor. Na Califórnia, maconha para paciente foi aprovada num plebiscito. Mas a resistência é grande. Em parte é de pessoas que consideram drogas maléficas e diabólicas, uma possessão do demônio em forma química. Na maior parte são as burocracias, imensas, de justiça e polícia, que recebem suas verbas enormes para combater o uso de drogas. Não combatem bem, para dizer o mínimo. Em qualquer esquina de cidade grande nos EUA, há um traficante provando a versatilidade da livre empresa.

Maconha fede. Só dá um torpor, leva-nos à introspecção. Não é uma droga sociável, como cocaína, em que o tomador trinca os dentes e fala pelos cotovelos. O duque de Windsor, ex-rei da Inglaterra, que abdicou do trono para se casar com uma comum, Wallis Simpson, no fim da vida estava com uma bronquite dos diabos. Foi ao médico, que lhe disse que parasse de fumar. O duque reclamou da perda do vício delicioso. O médico recomendou maconha. O duque disse que não podia a essa altura da vida virar maconheiro. Ibrahim Sued, de quem li essa história, aprovou o comportamento do duque.

Droga devia ser legalizada. Com os devidos controles para crianças, que, de resto, existem para álcool e cigarros. Não há vício de drogas. Há viciados. Conheço gente que não pode tomar droga porque não pára mais. Mas há muito mais pessoas que tomaram drogas de toda espécie, pararam, ou continuam vez por outra, e nada acontece com sua capacidade de funcionar. Maconha é das mais inofensivas”.

Paulo Francis, na última coluna "Diário da Corte", escrita na véspera de sua morte.

5 comentários:

Anônimo disse...

Maconha!
Tudo depende se é bad trip.
Quem garante a onda boa num mundo de tantas incertezas ameaçadoras ?
Minha grana dá pra viajar por um monte de porcarias tipo carro zero kilometro.
Nada se compara a sentir fome para almoçar e bater aquele pratão de comida caseira. Sentir fome é o maior barato.Sentir sede então nem se fala .
já tomei copos de água que estipulei valerem 500 reais só pelo prazer proporcionado depois de um rango meio salgadinho num dia quente.
A maconha sou Eu .
O principio ativo é um valor que se perde num mundo tão complicado.
A vida é uma droga !

Anônimo disse...

Interessante a história do rei.
Ser careta é uma opção deliciosa se o torpor é incômodo.
A maior droga mesmo é o estímulo de recompensa que se transformou em salário mínimo.
Não tem quase teores de ilusão.
Aquela coisinha minguada.
Daí a gente turbina com rádio , televisão , jornal e pinga que não é proibido.
Ilusion Mix !
No Natal me dei o luxo de ficar próximo de uma overdose de guloseimas.Comí igual um porco!
Me sentí um rei.

taxicomum disse...

Nunca fumei essa droga.
Mas se fosse liberada, teríamos mais uma fonte econômica no mercado.
As forças da polícia iriam ficar mais disponível pra outras drogas.
Boa sorte aos novos usuarios...

Anônimo disse...

Paulo Francis , adorei a memória !!
Adoro sua maneira de escrever .

Anônimo disse...

Paulo Francis falava que já fumou maconha umas duzentas vezes.
Dizia que não dava barato nenhum coisa e tal.
Também , devia fumar depois de ter enchido a cara de uísque.
O Paulo Francis era muito louco !
Seu ectoplasma está em Brasília e não em Nova York.
Todo o jornalista deveria se inspirar nele .
Acho incrivel as caracteristicas
dele...um pouquinho esquizofrênico.
Um toque de muita originalidade.
Acho que sua depressão era advinda de tanta consciência culta.
Ter muita cultura deixa nos paradoxalmente longe demais de acreditar em mentiras e então temos que inventá-las.
Ter cultura e não ter grana ou poder é doloroso.Sente-se demais palhaço com potencial .
Uma mão de obra boa e barata.
Maravilhoso é cair nas graças dos consumidores pra ganhar muita grana.Paulo Francis queria.