sexta-feira, 19 de março de 2010

A marcha do petróleo


Foi bonita a passeata pelos royalties na capital fluminense. Mas não consigo evitar perguntas incômodas. Os manifestantes sabem realmente do que se trata? Conseguem discutir o tema acima da antipatia a Ibsen Pinheiro ou da simpatia a Sérgio Cabral? Compreendem a extensão desse posicionamento? Por exemplo, defenderiam que o petróleo em torno das Malvinas pertence à Argentina? Que os rendimentos de qualquer riqueza natural sejam revertidos para as regiões originais? E se o Paraná reivindicasse o mesmo por Itaipu?

Esse “carioquismo” ferrenho soa como qualquer bairrismo tolo. Depois que vaiaram Lula no Pan (e em seguida fizeram carnavais pelos Jogos Olímpicos), as manifestações populares cariocas parecem trazer um ranço de militância partidária. Muita gente lembrou a Marcha dos Cem Mil (junho de 68), contrária à ditadura. Assim é fácil. Em São Paulo, quatro anos antes, houve outra manifestação, igualmente “espontânea” e numerosa. Chamou-se Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Engraçado como ela não serve mais de comparação para ninguém...

5 comentários:

Unknown disse...

Então, me faço essa pergunta... Se as pessoas têm noção da passeata, ou se simplesmente pela "incitação" do governador sobre os royalties que serão reduzidos, mas, ainda será o RJ o estado com maior percentual...

Funcionária do Mês disse...

Muito obrigada pelo comentário, Guilherme Scalzilli! Nem acreditei quando li o texto e vi seu nome, afinal por 5 anos assinei a Caros Amigos e acompanhei seu trabalho. Tietagem à parte, adorei a comparação com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, orquestrada pela direita e executada com perfeição pela classe média e simpatizantes, abrindo alas para a ditadura militar que veio a seguir. Acusam Lula de paternalismo, mas como poderíamos classificar a postura de Sérgio Cabral? Quero muito acompanhar o desenrolar desta história…

Humberto Carvalho Jr. disse...

Scalzili,

As pessoas falm muito em justiça, na construção de uma sociedade mais igual, em extipar a corrupção e tantas outras coisas que nos habituamos a ouvir. Mas quando surgem propostas de se criar condições para a realização de tais anseios, a cuíca muda o tom.

O que ocorreu no Rio de Janeiro foi o comportamento mais comum (não quis dizer aceitável) da nossa sociedade, em semelhança aos discursos contra a reforma agrária ou qualquer outra política que ameace a manutenção do status quo.

Dividir tornou-se palavra amarga em nossa sociedade.

Abraços!

Unknown disse...

Funcionária do Mês, foi incrível coincidência ter chegado a seu belo espaço. Vou continuar acompanhando. Seus comentários são sempre muito bem-vindos por aqui.

Quanto ao final da novela, me parece que os ânimos estão exaltados demais para uma solução razoável. Em curto prazo, todos (Cabral, Gabeira, Ibsen) vão aproveitar o momento para seus próprios interesses eleitorais. O apelo das Olimpíadas não pode ser subestimado. Tomara que a decisão final seja tomada depois das eleições, com amplo debate público e menos bairrismo.
Abraços do
Guilherme

Ricardo Novais disse...

Caro Guilherme,

Excelente sua colocação! Há claramente uma "simpatia" histórica ao Rio de Janeiro, acredito até que seja por tudo que este Estado representa para o Brasil.

Embora eu não seja muito "simpático" às passeatas e manifestações deste tipo por entender que a discussão reflexiva e sopesada são de mais valia que o protesto simples, neste caso, entretanto, a meu ver o Rio de Janeiro e o Espírito Santo estão sendo injustamente prejudicados.

Perceba que os royalties do petróleo são concedidos àquelas localidades que prospectam o minério; e exatamente para compensar o meio-ambiente, as jazidas subterrâneas que foram extraídas, e como incentivo ao estudo e pesquisa de fontes renováveis de energia combustível.

Parece-lhe justo que um Estado que nada produziu, ou produz pouco, receber a mesma recompensa que um outro que, ora por sorte divina ora por competência nas pesquisas, alavanca a prospecção do petróleo da rochas sedimentares - dificílimas de se obter a extração?

Se devemos ser justos e não somente "simpáticos" a revolta alheia, do mesmo modo devemos ter cuidado para não cairmos numa espécie de 'socialismo' federativo que entrava ainda mais o crescimento e, principalmente, a criatividade autêntica deste povo.

Grande abraço a você.