Mesmo que levássemos em conta apenas a superfície imediata do entretenimento, o filme superaria a média industrial hollywoodiana. Nem tanto por mérito do jovem e talentoso Cristopher Nolan, mas graças ao arrojo técnico empregado para contar sua história mirabolante. Os efeitos visuais atingem um grau de ilusionismo assombroso. A edição é exemplar. Prêmios técnicos não faltarão ao filme.
Há, no entanto, um pequeno detalhe.
A música “Je ne regrette rien”, cantada por Edith Piaf, surge freqüentemente, servindo a necessidades dramáticas. Os protagonistas a utilizam como uma espécie de gatilho para retornar das viagens pelos sonhos. Depois que os inconscientes foram devidamente treinados, basta-lhes ouvi-la e todos despertam imediatamente, salvando-se de apuros eventuais.
Mas trata-se também de uma referência exterior ao próprio filme: a canção desloca nosso raciocínio da personagem-chave “Mal” para sua intérprete, a francesa Marion Cotillard. Pois é impossível não lembrar a própria Cotillard no papel de Edith Piaf, cantando exatamente “Je ne regrette rien”.
Enquanto “Mal” só existe no mundo onírico, a identificação da atriz com seus trabalhos anteriores faz sentido apenas no plano dos espectadores conscientes. A citação extrai os personagens de suas imersões pela fantasia e ao mesmo tempo nos retira de “A origem” (ou do “sonho” representado pelo filme) para devolver-nos à realidade exterior.
Se qualquer outra canção preservasse o mesmo sentido conveniente à trama (“não lamento nada”), as lucubrações acima virariam delírios absurdos. Mas a escolha dessa música, entre inúmeras possíveis, é precisa e enriquecedora demais para soar casual. E assim descobrimos a essência do código metalingüístico em sua plena realização.
Há, no entanto, um pequeno detalhe.
A música “Je ne regrette rien”, cantada por Edith Piaf, surge freqüentemente, servindo a necessidades dramáticas. Os protagonistas a utilizam como uma espécie de gatilho para retornar das viagens pelos sonhos. Depois que os inconscientes foram devidamente treinados, basta-lhes ouvi-la e todos despertam imediatamente, salvando-se de apuros eventuais.
Mas trata-se também de uma referência exterior ao próprio filme: a canção desloca nosso raciocínio da personagem-chave “Mal” para sua intérprete, a francesa Marion Cotillard. Pois é impossível não lembrar a própria Cotillard no papel de Edith Piaf, cantando exatamente “Je ne regrette rien”.
Enquanto “Mal” só existe no mundo onírico, a identificação da atriz com seus trabalhos anteriores faz sentido apenas no plano dos espectadores conscientes. A citação extrai os personagens de suas imersões pela fantasia e ao mesmo tempo nos retira de “A origem” (ou do “sonho” representado pelo filme) para devolver-nos à realidade exterior.
Se qualquer outra canção preservasse o mesmo sentido conveniente à trama (“não lamento nada”), as lucubrações acima virariam delírios absurdos. Mas a escolha dessa música, entre inúmeras possíveis, é precisa e enriquecedora demais para soar casual. E assim descobrimos a essência do código metalingüístico em sua plena realização.
7 comentários:
Muito boa sua resenha de "A origem", quando a comentou no Paranóico, suspeitei que fosse na verdade um post, uma boa postagem por sinal. Também acho que muitos prêmios vão surgir para esse filme.
Charlie B.
Olá Guilherme,
Retribuindo a visita e o comentário. Há muito tempo que não fico tão impressionada com um filme como fiquei com "A Origem".
Espero que leve muitos prêmios além dos técnicos e que muito mais do que isso, seu sucesso sirva como exemplo para ajudar a por mais qualidade nas próximas produções de Hollywood.
Abraços e parabéns pelo blog,
Drika
Olá Guilherme,
Retribuindo a visita e o comentário. Há muito tempo que não fico tão impressionada com um filme como fiquei com "A Origem".
Espero que leve muitos prêmios além dos técnicos e que muito mais do que isso, seu sucesso sirva como exemplo para ajudar a por mais qualidade nas próximas produções de Hollywood.
Abraços e parabéns pelo blog,
Drika
gostei dessa observação.
A metalinguagem neste caso é realmente interessante. No entanto, creio que a ideia de questionar o que é sonho e o que é realidade, e os seus sonhos dentro de sonhos, se perde a meio a tantos tiros e perseguições. O roteiro ficaria bem melhor nas mãos de um Charles Kaufman.
Post brilhante! Assisti ao filme e gostei muito, meu marido e eu conversamos sobre ele por horas. Mas não tinha prestado atenção nessa relação da música escolhida. Parabéns!
Guilherme,
também vi o filme e achei muito interessante. Muito boa sua observação. Eu achei que o "je ne regrette rien" era para que a pessoa se desligasse do que a prende ao sonho, ao passado, que na verdade foi o que aconteceu com a Mal que não queria acordar mais. Agora, esse tema de confundir realidade com imaginação é a segunda vez que o Leonardo di Caprio aborda né, teve aquele outro filme do presídio, você viu?
Acho que esses limites estão bastante confusos para os estadunidenses, talvez pela excessiva manipu~lação da mídia, os eventos mal esclarecidos do 11/9, e por ai vai. Você não acha?
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