segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Propaganda de guerra


Quem são os vilões nos combates cariocas? A imprensa corporativa simplifica-os no coletivo “traficantes”, suscitando mistificações embaraçosas. Vemos apreensões de sacos de maconha, pacotes de cocaína e até vidros de lança-perfume, o antiqüíssimo “loló”, como se pudessem, agora sim, desfalcar o imenso poder dos caubóis malvados.

Quantos quilos de maconha são necessários para pagar um fuzil de última geração? Quantos alqueires de plantações de fumo dariam troco suficiente para financiar os arsenais e exércitos que enfrentam as forças públicas nas favelas? Quantos milhões de papelotes de pó deveriam ser vendidos, em boa cotação, para erguer fortalezas luxuosas? Alguém já fez essa conta?

Se os “traficantes” dominam o crime organizado, onde estão os assaltantes de banco, os seqüestradores, os ladrões de carga, os contrabandistas, os falsificadores, os proxenetas, as quadrilhas de jogo ilegal, os exploradores de pedofilia, etc? Ah, entendi, eles não são estruturados nem equipados, tampouco dispõem de recursos ou armamento. E, claro, o empreendimento criminoso caracteriza-se pela ética da especialização: quem vende “tóchico” não se permite roubar.

Por natureza, uma ação de combate dessa envergadura é permeável a todo tipo de sensacionalismo. Pode-se até discutir o caráter nocivo do discurso “prende e arrebenta” propagado pelo noticiário televisivo. Mas a insistência numa associação demagógica e irreal entre o banditismo e a droga não surgiu apenas de exigências didáticas. Há muito da ideologia retrógrada do filme “Tropa de Elite” nessa propaganda. Justamente quando a sociedade poderia questionar a estupidez proibicionista, a mídia contribui para sua apologia.

3 comentários:

Remindo disse...

Caro Guilherme
Se a droga fosse legalizada, vendida em mercadinhos nos bairros, como acontece hoje com as bebidas alcoólicas e com o fumo, poucas desgraças teriam a oferecer a sociedade. A maior parte das mortes no envolvimento com as drogas acontece na guerra do tráfico e poucas associadas aos a sua ingestão. A própria imprensa ganharia com isso, belos anúncios na TV, rádios, jornais e revistas chamariam a atenção para as maravilhas que tal droga poderia oferecer ao consumidor. Os jornalistas, pessoal de TV e rádio, que se acham tão avançados nas coisas não precisariam mais queimar seu fuminho escondido e nem cheirar suas coisinhas escondidos em banheiros.

Ticão disse...

Só tentando entender. Você está sugerindo que membros de outros tipos de atividades criminosas também participaram da semana de terror?

Você está sugerindo que os assaltantes de banco, os seqüestradores, os ladrões de carga, os contrabandistas, os falsificadores, os proxenetas, as quadrilhas de jogo ilegal, os exploradores de pedofilia, etc... também promoveram a queima de ônibus?

Interessante isso. Qual seria o objetivo dos exploradores de pedofilia em atear fogo em automóveis ou ônibus nas avenidas de grande movimento?

Bruno disse...

Vamos imaginar a situação da descriminalizaçao das drogas, em absoluto.

Como disse o sr. Remindo, "se a droga fosse legalizada, vendida em mercadinhos nos bairros, como acontece hoje com as bebidas alcoólicas e com o fumo, poucas desgraças teriam a oferecer a sociedade"

Acredito que podemos pensar sobre isso mais profundamente:
1) Por que um remédio de tarja preta, como um benzodiazepínico ou um flunitrazepan, precisa de prescrição e rentenção da receita e o pó nosso de cada dia não? Então liberaríamos também todos os medicamentos de tarja-preta para serem vendidos em mercadinhos? OK
2) Com a liberação absoluta das drogas, óbviamente o controle sobre o mercado seria diminuido e o mercado de compra e venda de drogas aumentaria. Para quem tem dinheiro para comprar drogas isso seria ótimo. Mas e aqueles pobres-coitados viados em crack, que vendem a televisão da avó (a última que tem acesso) para comprar a próxima pedra? Quando eles tivessem sem grana o que fariam para conseguir mais? Provavelmente assaltariam (o que já fazem), espancariam pessoas (engraçado, tbm já fazem) e etc... E o resto do pessoal que na fissura de comprar só mais um pózim ou uma pedrinha acabam batendo, cortando, matando e etc? Como ficaria? Tudo que eles querem é atravessar a rua e comprar uma pedrinha... quase a mesma coisa que alguém que precisa de um cigarro. Aliás, alguém já matou por causa de um cigarro?
3) Com a liberação do comércio, o Brasil viraria, como ocorreu na Holanda e na Suécia dos anos 70, a meca do consumo de drogas no mundo. Isso traría cada vez mais viciados para cá, aumentando os problemas acima.
4) Como ficaria toda essa população viciada, que perde todos os sentidos e maç consegue raciocinar? O que essas pessoas fariam da vida? O que eles produziriam? Como eles viveriam? Isso iria acarretar no aumento vertiginoso do número de dependentes da previdência social, aumentando o défict da previdência, piorando as contas públicas e etc...
5) Do que viveriam os traficantes que, agora, estão desempregados? Iriam voltar para suas casas e pensar em um novo negócio? Iriam prestar consultoria de vendas de drogas? Iriam montar bandas de pagode? Iriam todos fazer cursos profissionalizantes do SEBRAE e virar micro-empreendedores? Acho que não, né... Acho q eles iriam continuar as margens da sociedade, cometendo outros delitos (sequestros, asslatos, roubos, assassinatos, depredações e etc..).


Esse futuro não me parece muito promissor. Mas se você e o sr. Remindo acham que pode ser interessante, podemos até tentar continuar a análise dessas perspectivas.