quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Barajas é aqui



As boas almas se solidarizam com a última vítima da truculência espanhola.

Mas é fácil politizar o sofrimento dos brasileiros no aeroporto de Barajas, jogando a culpa na submissão do Itamaraty. Embora fosse uma atitude correta e urgente do governo brasileiro, a reciprocidade não resolveria o problema. Nossas autoridades jamais teriam coragem de tratar estrangeiros da maneira como somos tratados em seus países, e tampouco espalhariam igual número de violências.

Centenas de brasileiros são maltratadas anualmente por leões-de-chácara espanhóis na Guantánamo dos turistas sul-americanos. A imprensa divulga apenas os casos mais gritantes, e olhe lá. O escandaloso episódio envolvendo Guinga, por exemplo, sumiu da pauta.

Esse silêncio é subvencionado pelas agências de viagens, ricas anunciantes da mídia corporativa, que não querem admitir a seus clientes que eles podem perder as economias e passar humilhações porque um idiota fardado não foi com as suas fuças. Quando a turma começar a desprezar pacotes e ofertas que envolvam empresas aéreas espanholas, uma luzinha amarela acenderá na xenofobia (machista) dos civilizados europeus.

Mas, claro, continua mais cômodo fingir que as vítimas fizeram por merecer ou deram um bruto azar, coitadas. Se os painhos fizeram, é porque precisava, certo? Até que acontece com a gente e ninguém dá mesmo nenhuma bola.

3 comentários:

miguel disse...

Lamentável tudo isso! Se pelo menos nossa classe mé(r)dia tivesse um pouco mais de consciência poderia fazer um baita boicote coletivo a essas viagens. Não sei se a quantidade de brasileiros que vão à Espanha anualmente tem algum peso na economia daquele país mas, de qualquer maneira, azeite de oliva espanhol não entra mais em minha casa. Pelo menos enquanto existirem os portugueses. Na verdade, faz muito tempo que eu penso em boicotar produtos espanhóis, "só" por causa das abomináveis touradas. Ah, sim, e conta no Santander, nem pensar!

Bento Carneiro disse...

Se existe um tipo de pessoa pela qual a Classe Média nutre a mais sincera devoção e idolatria, estes são os gringos. Gringos, para o médio-classista, são como seres de outro mundo, seres iluminados de uma esfera superior, de um planeta onde tudo é ao contrário do Brasil: não há pobres, o trânsito funciona, todo mundo é educado, as ruas são limpas e todo mundo é bonito e veste marcas conhecidas.

Quando um gringo vem ao Brasil, a Classe Média se apressa em fazê-lo se sentir o mais confortável possível. Ele passa a ser o centro das atenções. Se for um intercambista, ficará no melhor quarto da casa do hospedeiro. A comida terá um incremento inédito de qualidade, a limpeza será realizada com o maior apuro possível, e muitas vezes até a decoração terá que mudar, de modo a denotar que os donos da casa, apesar de brasileiros, possuem refino e bom gosto. Se for turista, fará também a alegria dos comerciantes em geral.

Nossa Classe Média mostrará como podemos ser um povo bem hospitaleiro (aliás, esta talvez seja a única situação na qual o médio-classista se incluirá na definição de "povo"). O gringo se surpreenderá com o esforço que as pessoas farão para se comunicar com ele em inglês, ao invés de ele ter que seguir o caminho normal, aprendendo um mínimo do idioma local. O gringo será sempre a companhia mais desejada em público. O status de ser amigo de um estrangeiro, entre a Classe Média, não tem preço. Se você tiver esse privilégio, aprendiz de médio-classista, terá que fazê-lo demonstrando, com o olhar e o sorriso altivo, aquele sentimento de estar um patamar acima dos seus iguais. Enquanto for coadjuvante de gringo, você despertará a inveja e o respeito nos corações da Classe.

Logicamente, para se encaixar na categoria “gringo”, nem todo estrangeiro é permitido. A prioridade, claro, é para estadunidenses e europeus ocidentais. Depois vêm os naturais de países anglófonos “de primeiro mundo”, seguido pelos asiáticos “de primeiro mundo”. Pessoas de países em situação econômica pior que a do Brasil não são facilmente aceitas nesta condição. Neste caso, é bom que seja uma pessoa loira. Mas, na falta de um gringo "tipo A" para esfregar na cara do resto da Classe Média, até argentino está valendo

Carla disse...

Já desisti de viajar Ibéria há 8 anos. Mesmo tendo duplo passaporte, me recuso a viajar Ibéria, qualquer que seja o preço da passagem. Eu não entendo porque há ainda brasileiro acreditando nas promessas das agências de viagem. Mas, seria bom o Itamaraty tomar alguma providência, em todo caso. Fantasia é que não falta neste pais.