segunda-feira, 25 de abril de 2011

O dilema da Macaca



Repetindo a final de 2008, faltou malícia para a Ponte Preta no Campeonato Paulista de futebol. Se não tivesse vencido o Palmeiras, evitaria disputar a vaga com o Santos, melhor time da competição, no seu momento mais favorável. Os outros possíveis adversários, além de medianos, foram batidos pela Ponte na primeira fase.

Para a diretoria pontepretana, a desclassificação no Paulista e na Copa do Brasil foi trivial. A prioridade absoluta da gestão Sérgio Carnielli é subir para a série A do Brasileiro. Assim, acredita-se, o clube participará das futuras ligas promovidas pelas máfias futebolísticas nacionais, atrairá patrocinadores e viabilizará a nova arena.

Para este sofrido torcedor, porém, trata-se de um equívoco estratégico. Depois de algumas décadas vertendo lágrimas amargas pela Ponte, nada me parece tão necessário quanto a conquista de um título. Ele devolveria auto-estima à torcida, seduziria as novíssimas gerações, mobilizaria o omisso empresariado campineiro, calaria a arrogante crônica bairrista das capitais e fortaleceria o clube nos bastidores.

Acontece que a chance do título, mesmo remota, só existe em decisões no sistema de mata-mata, exclusivo do Paulista e da Copa do Brasil. Num campeonato de pontos corridos, com distribuição desigual de renda, os times desfavorecidos são eternos coadjuvantes. Disputar a série A somente pela fantasia de pertencer à “elite” do futebol e passar os anos lutando para não cair é muito pouco. Ou alguém imagina que uma Liga qualquer nos concederia verba suficiente para vencermos os protegidos da arbitragem e da mídia num torneio de nove longos meses? Existe lógica em competir (e pagar ingressos caríssimos) sabendo que o triunfo é impossível?

Claro que a tal inversão de prioridades não é responsável pelo novo adiamento do título. E mais claro ainda que o eventual acesso receberá uma esfuziante comemoração. Mas os pontepretanos podem aproveitar o momento para refletir se os objetivos perseguidos pela gestão Carnielli estão de fato sintonizados com os desejos mais profundos dessa gigantesca nação de heróis que nunca tiveram o gosto inigualável da conquista.

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