As imagens do linchamento de Muammar Gaddafi comprovaram o acerto da prudência diplomática brasileira perante a ação da Otan na Líbia. Repetindo o velho roteiro intervencionista, os EUA e as potências européias utilizaram a supremacia bélica para aniquilar um governo outrora aliado e para dominar um país destruído pela guerra civil. Em pleno século vinte e um, sob o silêncio cúmplice da comunidade internacional.
A propaganda legalista de Hillary Clinton não engana ninguém. A única diferença da simples invasão militar, nos moldes iraquianos, é que seus objetivos diretos foram alcançados por intermediários locais. Sem os bombardeios maciços, as doações de armamentos e a infiltração de mercenários estrangeiros, os assim chamados “rebeldes” seriam trucidados pelo exército líbio. É o que ocorre na Síria e no Iêmen, onde Washington permite que os respectivos ditadores usufruam a soberania nacional.
A terceirização da selvageria não torna o Ocidente menos responsável por ela. A execução desumana e extrajudicial de Gaddafi simboliza a degradação moral de seus inimigos, rebaixados ao nível da monstruosidade que dizem combater. É fácil aplaudir sacrifícios públicos de tiranos sanguinários, mas isso não significa vencê-los de fato. Gaddafi junta-se à companhia de Benito Mussolini, Nicolae Ceausescu e outros cadáveres ilustres que simbolizam a permanência da barbárie nas entranhas da rica e desenvolvida civilização moderna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário