quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Estrondo



Perco valioso tempo escarafunchando as páginas da mídia corporativa em busca de qualquer menção ao livro “A privataria tucana”. Mesmo que o resultado seja previsível, ainda fico meio perplexo ante a completa ausência de comentários. Salvo umas raras e cuidadosas exceções, ninguém escreve uma linha sobre o assunto. Nem os analistas folclóricos dos tempos áureos do jornalismo nacional, mesmo os mais indignados e combativos. Sequer os politizados cronistas esportivos ou certos críticos de cinema e literatura, que amiúde escorregam para outras áreas de interesse.

Tamanho despeito assombra mais que as próprias acusações contra José Serra e seus capangas, que já conhecíamos há tempos. É revelador desse viés antidemocrático da grande mídia, que alguns chamam de “golpista” (em parte diluindo a inegável força da constatação), e que vem destruindo a credibilidade jornalística no país. Depois de tudo que se publicou durante o governo Lula, ignorar revelações tão bombásticas sobre o maior processo de apropriação das riquezas públicas da nossa história republicana é um insulto que não poderia passar incólume.

Dizem que isso está mudando aos poucos. É verdade, mas não creio que chegue às Organizações Globo e à imprensa escrita de São Paulo, que jamais arriscariam a desmoralização vexatória em nome de uns princípios mambembes. E também receio que a esquerda endosse frituras individuais convenientes para a reorganização oposicionista. A essa altura do campeonato eleitoral, o fuzilamento de Serra (desejado pelas turmas de Aécio Neves, Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin) tornou-se menos proveitoso, até estrategicamente, do que uma profunda investigação da privataria orquestrada pelo demotucanato nos diversos níveis administrativos.

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