segunda-feira, 5 de março de 2012

Serra é a boa notícia



O teatro midiático do “lançamento” da pré-candidatura de José Serra visava municiar as pesquisas de opinião e as negociações de bastidores arquitetadas pelo PSDB. Com elas, o partido tentará refazer o tripé de forças que esteve por trás de suas últimas vitórias na capital e no Estado: a) união partidária, que garanta investimentos, infra-estrutura e coesão propositiva; b) uma tropa de choque formada por legendas menores, que assuma a pauta negativa da campanha e forneça valioso tempo de propaganda televisiva; e c) uma retaguarda obscura de candidatos legislativos da própria esquerda, cooptados para dissimuladamente prejudicar Fernando Haddad.

É sabido que a hipótese Serra já nasce claudicante nesses três alicerces. Ela divide o PSDB, mina o desenvolvimento de novos quadros tucanos e carrega o estigma das baixarias que dominaram a última campanha presidencial. O receio de contaminação pela repulsa de mais de um terço do eleitorado (e de toda a fauna progressista) tende a afastar aventureiros e “independentes”.

O cenário inicial da disputa não poderia ser mais favorável ao PT. Ele ficará livre do malévolo encosto kassabista, já rechaçado pela militância, e ganhará um concorrente vulnerável – as suspeitas levantadas no livro “A privataria tucana” e o vexatório episódio da renúncia ao cargo de prefeito em 2006 tendem a neutralizar o editorialismo serrista dos grandes veículos. Gilberto Kassab, receando ser trucidado por todos os pleiteantes sem poder defender-se, aos poucos rumará para a neutralidade que convém aos acordos do PSD no resto do país. Gabriel Chalita e Celso Russomano, que sonham em polarizar com o PT num eventual segundo turno, disputarão ferozmente o eleitorado conservador de Serra.

A má notícia, porém, é que tantas vantagens aumentam a responsabilidade e a importância da cúpula petista de São Paulo. Nas últimas campanhas locais, ela demonstrou uma incapacidade atroz de aglutinar lideranças do partido, de promover estratégias coerentes nas articulações sucessórias regionais e de produzir uma comunicação eletrônica eficaz nas campanhas majoritárias mais importantes. Fechou acordos que favoreciam grupos restritos de interesses, avalizou projetos locais espúrios, financiou concepções equivocadas de propaganda e, acima de tudo, esfriou o ímpeto combativo dos militantes, maior trunfo histórico do petismo.

Pode-se reclamar eternamente do apoio da grande mídia a Serra. Como explicação para a derrota, no entanto, já não serve mais.

Um comentário:

Vania disse...

Gostei muito da sua avaliação. Pelo que li, parece muito diferente da maior parte do que vai sendo dito na "imprensa" nativa. Também acho que a direção do PT terá grande parte da responsabilidade pela vitória (ou pela derrota) do Haddad. Espero que esteja à altura desse momento importante na história do partido!