É necessária muita desfaçatez para negar que a deposição
de Fernando Lugo foi um golpe de Estado. Não bastasse o escandaloso rito sumário
do Congresso paraguaio e a conveniência pré-eleitoral do arranjo, sabemos agora
que a conspiração estava em curso desde 2009, pelo menos, sob os auspícios do
governo dos EUA. Protagonizada por notórios delinquentes políticos locais.
Os argumentos favoráveis à “normalidade” da
tramóia são toscos demais para um debate sério. Qualquer arbítrio pode furtar retórica
de normas constitucionais, como a “defesa da segurança nacional” que justificou
a ditadura militar brasileira e tantas outras pelo mundo. Ainda que houvesse
base técnica para as denúncias contra Lugo, ela jamais suplantaria o direito de
defesa do presidente e a integridade do seu mandato.
Os defensores do golpe não parecem notar que suas
desculpas são imitações ruins das utilizadas pelos governos sul-americanos que eles
próprios acusam de autoritários. Ignorando o fato de que Hugo Chávez, Evo
Morales e Cristina Kirchner foram eleitos e desfrutam de grande respaldo popular,
cada comparação indevida chama atenção para esses humores antidemocráticos que
abraçam a legalidade apenas quando serve a projetos obscuros de poder.
A direita brasileira vê em Lugo o adversário
ideal, impopular e pusilânime, que o teatro sufragista manipula e descarta ao
sabor das conveniências. É tudo que Lula poderia ter sido e não foi. Nos primeiros anos de governo petista, a mídia demotucana urdiu silenciosamente sua ruína, certa
de que chegaria o momento de esmagá-lo em circunstâncias muito parecidas. O
julgamento do chamado “mensalão” é uma herança daquele período nebuloso e símbolo
máximo da frustração dos nossos conspiradores.
Que se exponham, portanto, corroborando o que sempre
dissemos a seu respeito.
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