As dificuldades da campanha de José Serra ficaram evidentes
desde que o cenário eleitoral começou a definir-se. O histórico do candidato, os bastidores de
sua “escolha” no PSDB, os índices de rejeição que o acompanham, as
características dos públicos almejados pelos adversários e o anseio renovador
do eleitorado anunciavam que o tucano teria uma tarefa quase impossível pela
frente.
A surpresa vem da intensidade com que os possíveis
eleitores de Serra migraram para Celso Russomano e Fernando Haddad. Reagindo à
tendência, o ex-governador terá de assumir uma postura negativa, de ataques
pulverizados e apelativos, opção que raramente logra sucesso. A lógica aponta
para uma polarização cada vez maior entre os pleiteantes do PRB e do PT rumo ao
segundo turno.
Nesse quadro, Haddad ganha uma vantagem que
precisa ser habilmente explorada. A também previsível adesão de Marta Suplicy e
os apoios de Lula e Dilma Rousseff dividirão os setores mais pobres e numerosos
do eleitorado, que representam a grande força de Russomano. Nos outros recortes
da pirâmide social, porém, o líder das pesquisas deve atrair antipatia ainda
maior que a do petista. Os atuais esforços desmoralizadores da imprensa tucana
e a futura exposição das propagandas obrigatórias ajudarão a afastar as classes
médias e altas de Russomano, identificando-as ao perfil menos controverso de
Haddad.
O voto útil desses segmentos terá, portanto, um
papel decisivo na reta final da disputa. Para conquistá-lo, Haddad precisa antagonizar
frontalmente com Russomano, buscando um discurso alinhado aos temas que
sensibilizam o eleitorado serrista (religião, experiência, linhagem partidária,
etc). Ao mesmo tempo, deve se esquivar da proverbial agressividade que norteará
os últimos esforços de Serra, atingindo-o apenas indiretamente, através de suas
ligações com a impopular administração Gilberto Kassab.
A estratégia demanda paciência e cautela,
principalmente se os grandes institutos de pesquisa recorrerem às conhecidas manipulações para ocultar o verdadeiro grau da derrocada tucana. Soa temerário,
mas não deixa de sinalizar perspectivas inesperadas para uma campanha que
muitos já consideraram perdida.
2 comentários:
Sou do Rio, mas muito interessada em política, de qualquer lugar do Brasil. Espero mesmo que você esteja certo em sua análise equilibrada e sensível. E isso, para o bem de São Paulo e do resto do país. Um abraço.
Quando vejo os nomes que podem governar nossas capitais fico em tristeza profunda cada um pior que o outro
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