segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Na base do apito

Dulcídio Wanderley Boschilia expulsa o artilheiro Rui Rei, da Ponte Preta, aos 16 minutos do primeiro tempo da final paulista de 1977, vencida pelo Corinthians







Há imensa disponibilidade estatística envolvendo as competições de futebol no país. Todo tipo de minúcia possível acerca das partidas, dos times, dos atletas. Curiosamente, porém, ninguém ousa dimensionar os erros de arbitragem. Como sabemos que qualquer garoto de joelho ralado sabe detectar uma lambança de juiz, parece óbvio que a lacuna se deve menos a dificuldades metodológicas do que aos resultados previsíveis do levantamento.

A falta de aferição sistematizada ajuda a crônica das capitais a fingir que o problema se resume à incompetência de alguns despreparados, ou seja, a um evento aleatório e involuntário. Mas essa era exatamente a versão hegemônica em 2005, quando o caso Edilson Pereira de Carvalho desmascarou a cumplicidade involuntária da imprensa com as manipulações da quadrilha das apostas.

Como se o vexame jamais tivesse ocorrido, os comentaristas seguem reforçando a idéia do mal fortuito e generalizado, insistindo que as falhas também lesariam os times poderosos. Do ponto-de-vista dos clubes mais pobres, contudo, não existe essa oscilação de erros e acertos. Uma Ponte Preta, que perdeu nove pontos por “erros” convenientes a seus adversários (sem contar os impedimentos mal marcados), jamais foi beneficiada em lances decisivos. Teve um pênalti a seu favor, por exemplo, no decurso de todo o Campeonato Brasileiro de 2012. Repito: um pênalti em trinta e oito jogos.

Aqueles “erros” podem ter custado à Ponte uma vaga na Sul-Americana, primeiro torneio internacional da sua história. Com chances matemáticas de chegar à Libertadores, talvez até essa inimaginável conquista arrancasse o time da letargia na fase final. Terminando entre os oito melhores, ganharia prestígio e investimentos e, portanto, jogadores mais qualificados para encarar as competições de 2013.

Quantos clubes de capital amargaram semelhante prejuízo? Aliás, como terminaria o campeonato se os pontos somados de maneira irregular fossem transferidos aos seus merecedores legítimos? Por que os sagazes analistas fogem de uma contabilidade tão simples e ao mesmo tempo tão relevante? Afinal, as suspeitas são infundadas, certo?

Podemos imaginar que muito dessa omissão se deve à necessidade de manter intocado o mito da competência privilegiada dos clubes mais ricos. Mas é curioso ver que certos jornalistas esportivos preconizam a transparência, a ética e a verdade apenas quando esses valores não afetam seus próprios interesses.                                             

Um comentário:

José Geraldo Gouvea disse...

Ótimo post.

E que dizer do pobre Galo, múltiplas vezes vice-campeão graças às operações da arbitragem, único vice-campeão invicto do mundo. Onde poderia estar hoje o Atlético Mineiro se não lhes tivessem roubado os campeonatos de 1977, 1980, 1987 e 1999?

E por que não falar deste estranho campeonato de 2012?

E por que não falar do estranho fenômeno do jogador que subitamente "para de render"?

Será que a manipulação se resume aos árbitros?