quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

“O livro da carne” e “Moenda de Silêncios”


O escritor Whisner Fraga gentilmente me envia “O livro da carne” (7 Letras, 2010), volume de poemas, e “Moenda de Silêncios” (Dobra Editorial, 2012), novela escrita em parceria com Ronaldo Cagiano. Agradeço a lembrança dos colegas, parabenizo-os e desejo-lhes boa sorte com os ótimos trabalhos.

















"Receita para dividir o vento 

Tornar a mim e recuperar a inquietação
Reter no peito as mechas bruxuleantes da aurora
Depois correr apanhando o futuro
acariciando o espelho da saudade:
como se fosse ontem.
Desalinhar os ninhos de bem-querenças
Abraçando as horas alçando mãos ao amigo
Enganar o arco-íris
Roçar as coxas em tropel e vasculhar sussurros
Dedilhar carinhos
Descortinar o covil das nuvens.
Tecer insetos, remoer assombros, urdir peitos
Escorar sorrisos em cercas ilesas
Ordenhar giralua feito brumas de cantigas
escorridas em devaneios
e se cansar em beijos.
Resgatar a brisa, protegendo-a em sacos de fé
e chegar-se ao rosto da terra
e soltá-la, disparando ao regaço dos homens.
Crescer sem correria de amanhãs
Desenterrado de ausências e nada invejar
Silenciar o fel dos punhos
Inaugurar cismas.
Ultrapassar o vento:
como se escapasse."

















"Uma coleção de relâmpagos desaba sobre a moenda das horas na cidade que não dorme. Como lobos, os homens atravessam a imensa estepe desconfortável, diante do concreto glacial, da sisudez da fuligem ameaçando os olhos que buscam canteiros e não aquele pomar de ferro e cimento. A diáspora das esperanças no coração de uma pátria de retalhos. Dos escombros e vertigem das horas, do espólio de encontros e desencantos, passado e presente ressuscitam como uma fênix em apuros voando sobre o caos. Nem ícaros nem prometeus. Nem sísifo nem quixotes. Apenas um avarento desejo fecundado no ventre obeso dos sonhos."

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