O escritor Whisner Fraga gentilmente me envia “O livro da carne” (7 Letras, 2010), volume de poemas, e “Moenda de Silêncios” (Dobra Editorial, 2012),
novela escrita em parceria com Ronaldo Cagiano. Agradeço a lembrança dos colegas,
parabenizo-os e desejo-lhes boa sorte com os ótimos trabalhos.
"Receita para dividir o vento
Tornar a mim e recuperar a inquietação
Reter no peito as mechas bruxuleantes da aurora
Depois correr apanhando o futuro
acariciando o espelho
da saudade:
como se fosse ontem.
Desalinhar os ninhos de bem-querenças
Abraçando as horas alçando mãos ao amigo
Enganar o arco-íris
Roçar as coxas em tropel e vasculhar sussurros
Dedilhar carinhos
Descortinar o covil das nuvens.
Tecer insetos, remoer assombros, urdir peitos
Escorar sorrisos em cercas ilesas
Ordenhar giralua feito brumas de cantigas
escorridas em devaneios
e se cansar em beijos.
Resgatar a brisa, protegendo-a em sacos de fé
e chegar-se ao rosto da
terra
e soltá-la, disparando
ao regaço dos homens.
Crescer sem correria de amanhãs
Desenterrado de ausências e nada invejar
Silenciar o fel dos punhos
Inaugurar cismas.
Ultrapassar o vento:
como se escapasse."
"Uma coleção de relâmpagos desaba sobre a moenda
das horas na cidade que não dorme. Como lobos, os homens atravessam a imensa
estepe desconfortável, diante do concreto glacial, da sisudez da fuligem
ameaçando os olhos que buscam canteiros e não aquele pomar de ferro e cimento.
A diáspora das esperanças no coração de uma pátria de retalhos. Dos escombros e
vertigem das horas, do espólio de encontros e desencantos, passado e presente
ressuscitam como uma fênix em apuros voando sobre o caos. Nem ícaros nem
prometeus. Nem sísifo nem quixotes. Apenas um avarento desejo fecundado no
ventre obeso dos sonhos."
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