Festa cafona, longa e mumificada, como sempre. Mas
devo confessar que gostei da apresentação de Seth MacFarlane, surpreendentemente
desenvolto e, para seus padrões usuais, até comportado. Não pode ser
responsabilizado pelas diversas passagens ruins do evento, e conseguiu
injetar-lhe um raro sopro de novidade.
Teve presença de espírito para reagir ao silêncio
causado por uma piada sobre Abraham Lincoln, respondendo “cento e cinquenta
anos depois e ainda não podemos brincar com isso.” A frase resume bem o tom
geral do constrangimento: a Academia buscando rejuvenescer sua imagem, mas
desconfortável diante da “incorreção” das brincadeiras às quais o público jovem
está habituado. Jack Nicholson deu sua versão ao dilema quando resmungou “ninguém
faz gracinha agora”, ou algo assim, após a desnecessária aparição de Michelle
Obama.
Foi uma das premiações mais irregulares dos
últimos tempos. Começou com a esnobada em “O mestre”, de Paul Thomas Anderson,
e a ausência de John Goodman nos indicados a melhor ator coadjuvante. Mas
terminou pior, com absurdas injustiças pessoais e técnicas. Jennifer Lawrence no
lugar de Emmanuelle Riva iguala-se apenas à omissão de Nagisa Oshima no tributo
aos falecidos. A fotografia vitoriosa do computadorizado “A vida de Pi” não
chega aos pés de, por exemplo, “Operação Skyfall” (11ª candidatura do mestre
Roger Deakins). O prêmio de edição para “Argo” desrespeitou trabalhos
verdadeiramente inspirados e difíceis, como o de “A hora mais escura”. E o
“desenho de produção” de “Lincoln” (nossa Direção de Arte) era o mais fraco
entre os concorrentes.
“Argo”, trivial, ortodoxo e historicamente enganador, teve boa aceitação porque ajuda na política de reformular a imagem
da CIA. Venceu na ressaca do curioso esquecimento de Ben Affleck entre os
diretores. Ang Lee foi reconhecido pela carreira, prática usual no Oscar.
Tarantino e Christoph Waltz mereceram, e na verdade forneceram as únicas
surpresas positivas de um conjunto bem frustrante.
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