quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sobre o Oscar 2013


















Festa cafona, longa e mumificada, como sempre. Mas devo confessar que gostei da apresentação de Seth MacFarlane, surpreendentemente desenvolto e, para seus padrões usuais, até comportado. Não pode ser responsabilizado pelas diversas passagens ruins do evento, e conseguiu injetar-lhe um raro sopro de novidade.

Teve presença de espírito para reagir ao silêncio causado por uma piada sobre Abraham Lincoln, respondendo “cento e cinquenta anos depois e ainda não podemos brincar com isso.” A frase resume bem o tom geral do constrangimento: a Academia buscando rejuvenescer sua imagem, mas desconfortável diante da “incorreção” das brincadeiras às quais o público jovem está habituado. Jack Nicholson deu sua versão ao dilema quando resmungou “ninguém faz gracinha agora”, ou algo assim, após a desnecessária aparição de Michelle Obama.

Foi uma das premiações mais irregulares dos últimos tempos. Começou com a esnobada em “O mestre”, de Paul Thomas Anderson, e a ausência de John Goodman nos indicados a melhor ator coadjuvante. Mas terminou pior, com absurdas injustiças pessoais e técnicas. Jennifer Lawrence no lugar de Emmanuelle Riva iguala-se apenas à omissão de Nagisa Oshima no tributo aos falecidos. A fotografia vitoriosa do computadorizado “A vida de Pi” não chega aos pés de, por exemplo, “Operação Skyfall” (11ª candidatura do mestre Roger Deakins). O prêmio de edição para “Argo” desrespeitou trabalhos verdadeiramente inspirados e difíceis, como o de “A hora mais escura”. E o “desenho de produção” de “Lincoln” (nossa Direção de Arte) era o mais fraco entre os concorrentes.

“Argo”, trivial, ortodoxo e historicamente enganador, teve boa aceitação porque ajuda na política de reformular a imagem da CIA. Venceu na ressaca do curioso esquecimento de Ben Affleck entre os diretores. Ang Lee foi reconhecido pela carreira, prática usual no Oscar. Tarantino e Christoph Waltz mereceram, e na verdade forneceram as únicas surpresas positivas de um conjunto bem frustrante.

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