As bobagens proferidas na imprensa corporativa
sobre a Venezuela têm fornecido material para décadas de pesquisas acadêmicas
alinhadas a todas as metodologias disponíveis. Já é possível até reconhecer o
veículo de predileção do interlocutor pelo discurso que este reverbera nas
conversas informais.
Chegamos a um estágio de manipulação que
desestimula o próprio uso do noticiário como fonte de conhecimento sobre a
situação atual no país. À distância, simplesmente não dispomos de informações
confiáveis, e corremos o risco de reproduzir modelos argumentativos falsos
mesmo quando precisamos contrapô-los.
Mas os números disponíveis são suficientes para
iluminar algumas deturpações. A “surpresa” perante a votação do candidato
oposicionista, por exemplo, inaugura a incrível modalidade das expectativas isentas
de qualquer respaldo estatístico.
Os adversários do chavismo sempre atingiram marcas
próximas aos 40%, chegando a 45% na última vitória de Hugo Chávez. Conquistar
novos 4% do conjunto dos eleitores, numa disputa marcada pela ausência do maior
personagem político do país, não chega a representar uma arrancada sensacional.
Alguém poderia até interpretar o resultado como vitória simbólica do chavismo,
dadas as circunstâncias desfavoráveis.
Os aguerridos conservadores brasileiros esbanjaram
sagacidade, no entanto, quando apoiaram a recontagem dos votos venezuelanos.
Porque ela é viável na ditatorial Venezuela, onde a maioria das urnas
eletrônicas produz um recibo impresso para eventuais conferências. No democrático
sistema brasileiro, esse luxo seria impossível.
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