Difícil garantir que houve desleixo da Polícia
Militar durante a Virada Cultural paulistana. Indícios fortes e testemunhos
locais apontam para isso. E podemos imaginar conveniências políticas bastante
claras no desgaste da administração petista. Mas os relatos não parecem muito
diversos da atitude habitual da PM, especialmente se consideramos o tamanho do
evento. Quer dizer, chegamos a tal estágio que precisamos decidir se a polícia
é ruim ou pior ainda.
O debate sobre essas questões costuma ignorar um
aspecto primário: a responsabilidade constitucional da PM na prevenção e no
combate ao crime. Não importam as circunstâncias, o número de pessoas
envolvidas, o clima atmosférico, a gravidade dos delitos. Cada fato negativo
isolado nasce da incompetência ou da má-fé de alguém que o erário sustenta para
impedi-lo.
Os comandos civis e militares das forças policiais
têm um pendor histórico para tratar manifestações populares como se fossem males
desnecessários. Seu ideal de ordem são os estádios e as ruas vazias, os bares
fechados, a população presa nos shoppings e nos condomínios. Parte desse
comportamento nasce de pura e simples preguiça. Mas outra razão, muito
perigosa, tem a ver com o afastamento de pessoas e organismos que possam
fiscalizar e denunciar a criminalidade fardada.
A ineficácia da PM é um conveniente pretexto para
que ela própria reivindique maiores poderes. Por isso não podemos cair na
resposta fácil da repressão pura e simples, das leis secas e demais restrições
ao uso dos espaços públicos. Não cabe à polícia decidir se, quando ou como
serão realizados os eventos. Cabe a ela organizar-se para que transcorram de
maneira pacífica, dentro das normas legais, independente dos esforços
necessários.
Cada proposta de implantar uma Tolerância Zero
genérica é desvio para fugir dos verdadeiros debates políticos que envolvem a administração estadual.
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