A gritaria da imprensa corporativa contra a chamada
MP dos Portos é, de novo, hipócrita. Os analistas vivem trombeteando a suposta
inabilidade da articulação parlamentar do governo, mas agora reclamam que ela cumpriu
suas funções. Criticam a paralisia legislativa, mas acham absurdo quando alguém
consegue rompê-la para aprovar um projeto relevante. E, acima de tudo, engolem
as tratoragens de certas coligações locais (ah, a Assembléia paulista!) para
repudiar um procedimento que passou por quatro meses de discussão.
A ladainha do “fisiologismo sem resultados” desapareceu
das análises assim que os tais resultados se confirmaram. Fisiologismo
bem-sucedido remete a governabilidade, que por sua vez lembra o papel do
Legislativo na condução das necessárias reformas institucionais, e aí a
polêmica termina, porque nenhum colunista é bobo de se meter nesse redemoinho. Não
à toa, o público permanece alheio ao teor da medida aprovada, e especialmente
ao pesado jogo de interesses empresariais que a envolve. Por exemplo, a
influência do pré-sal na abertura dos portos.
Já a atitude dos partidos oposicionistas não vale
um perdigoto de credibilidade. Como é possível conceber a direita neoliberal e
as bancadas empresariais se opondo a um projeto de viés liberalizante?
Capitalistas de carteirinha combatendo medidas que aprimoram o escoamento da
produção? E por que precisariam de ainda mais tempo em suas deliberações? Para
alongar os “debates” com os lobistas da área? Sei.
No fundo, em uníssono com a crônica dos grandes
veículos, PSDB e congêneres apostaram no quanto-pior-melhor, na inação
generalizada, nas chantagens e traições que atravancam o programa
administrativo endossado pelas urnas. São capazes de trair suas próprias bases programáticas, apenas para impor uma derrota ao governo. O país que se esfole.
2 comentários:
O que me pareceu mais tendencioso na mídia, especialmente na TV Globo, foi o modo de tratar a matéria, nunca como a “MP dos Portos”, mas como a “MP que moderniza os portos”, pelas doces palavras de Patricia Poeta, minando de antemão qualquer tentativa de discussão a respeito de seu teor.
Vinícius,
é interessante esse viés apologista que você aponta na Globo. Demonstra a força do lobby por trás da medida. E indica uma das utilidades da simplificação do debate.
Abraço do
Guilherme
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