Por Gustavo Scalzilli
O Guarani fez a sua estreia no Brinco de Ouro pela
Série C nesse domingo e não pude comparecer.
Reformulo a frase: compareci, porém não pude
assistir ao clube de coração que acompanho desde meus tempos de criança, 37
anos atrás.
Fui barrado pela Polícia Militar.
Motivo? Simples. Eu estava utilizando muletas para
me locomover.
Aposto que muitos lendo esse relato, com tom de
desabafo, irão pensar qual seria o motivo de impedir uma pessoa de muletas
entrar no estádio?
Conto toda a história para tentar achar, junto com
você, um motivo.
Atleta amador de Corrida de Aventura, estou no
momento com o tendão do tornozelo inflamado após uma longa prova de que
participei.
Tenho que utilizar muletas para evitar de colocar
o pé no chão além de remédios e gelo.
Digo isso para explicar que minha condição é
temporária, mas fiquei pensando, muito mais do que o normal, naquelas pessoas
que não tem a mesma “sorte” que a minha.
Que dependem das muletas para conseguir se
locomover. Sempre.
Cheguei ao Brinco de Ouro e fui direto às
vitalícias, setor em que possuo três cadeiras em conjunto com o meu pai.
Na revista da Polícia Militar fui informado por um
soldado que não poderia entrar naquele setor de muletas, pois existe um local
específico, na entrada principal, para deficientes.
Perguntei se com isso eu seria impedido de entrar
no setor que anualmente pago para manter e a resposta taxativa do soldado foi:
“não”.
Fui à entrada principal procurando a entrada dos
deficientes, mas, pensando: Se eu consigo entrar em outros setores por que
seria privado disso?
Cheguei a outra revista na entrada principal e
quatro soldados (desculpem, não sei a patente dos envolvidos nem nomes, uma
falha minha, confesso) vieram conversar comigo e logo apontaram para minha
muleta e disseram: “o senhor não poderá entrar com isso”.
Perguntei que vim para a entrada específica para
deficientes e eles disseram que eu estava no lugar certo, porém de muletas eu
não poderia entrar.
Questionei dizendo que eu as estava utilizando por
necessidade, mas nesse momento recebi a melhor pergunta: “o senhor terá que
deixar as muletas na entrada antes de entrar. Consegue subir as escadas sem
elas?” Claro que não!!!
Nesse momento confesso que meu sangue subiu e
perguntei se eles estavam impedindo uma pessoa deficiente de entrar no estádio
e responderam naturalmente: “não senhor. Estamos impedindo que entre com a
muleta pois ela pode ser utilizada por outros torcedores como arma em uma
eventual confusão”.
Um dos soldados ainda questionou o seu superior (ao
menos era que o dava as ordens, imagino ser superior) sobre o setor dos
“cadeirantes”.
A resposta foi a cereja no bolo da incompetência
da PM: “o setor de cadeirantes é somente para cadeirantes”.
Gênios!
Novamente, confesso que sem nenhuma calma, perguntei
se eles iriam me impedir de entrar no estádio para ver o time do coração por
estar utilizando de muletas para me locomover.
A resposta taxativa e no auge da má vontade:
“não”.
Perdi a paciência soltei diversos palavrões com
dedo na cara dos “homens de farda”.
Eu acabava de ser impedido de entrar no estádio
utilizando muletas por pura incompetência da Polícia Militar do Estado de São
Paulo.
Incapaz de conter eventual problema de uma pessoa
de muletas em um jogo da série C do Brasileiro, com público máximo de 4mil
pagantes. Jogo de torcida única.
Nem os xingamentos (exagerei, confesso) fizeram
eles mudarem a postura.
Recebi um novo retorno: “o senhor pode entrar sem
as muletas, se conseguir”.
Genialidade em pessoa.
O diálogo terminou com o meu desabafo: “e vocês se
acham capazes de organizar uma Copa do Mundo. Patético (para dizer o mínimo)”.
Fui à secretaria do Guarani e expliquei a situação
e todos ficaram perplexos.
Perguntei sobre o que poderia ser feito e a resposta
foi: “infelizmente não podemos fazer nada. A Polícia Militar tem poderes de
impedir alguém de entrar no estádio. Mas isso não faz sentido algum”.
A comoção das pessoas ali presentes na secretaria
não me animou a tentar entrar.
Um funcionário até conversou dizendo que queria ir
comigo e conversar com a PM.
Meu ânimo já tinha acabado e apenas registrei um
protesto contra a situação e um pedido que a Diretoria do Guarani Futebol Clube
entrasse em contato com a Polícia Militar para resolver esse tipo de situação.
A minha condição é momentânea.
Em menos de uma semana passo a caminhar novamente
e, após fisioterapias e exercícios, voltarei às minhas atividades esportivas em
menos de um mês.
Mas penso, de coração, nas pessoas com reais
deficiências.
Aquelas pessoas que vivem ou viverão com o apoio
de muletas, “andadores” ou cadeiras de rodas. Como essas pessoas são privadas
de viver e curtir como todo o resto da população?
Um reflexo de que a Polícia Militar do Estado de
São Paulo não está preparada para lidar com a população em todos os níveis.
Não há preparo para lidar com situações tão
simples e importantes.
Não há preparo para eventos grandes.
Não há preparo para lidar com as pessoas
especiais.
Não há preparo para lidar com os cidadãos.
Utilizo de um jargão já conhecido para encerrar:
“Imagina na Copa….” Sim, imagino… e fico triste demais com o que penso no
momento.
Gustavo Scalzilli é bugrino fanático, Analista de
Sistemas, atleta amador e está com um tornozelo inflamado.
Um comentário:
Pa e bem!
.
No proximo jogo,
se ainda estiveres de muleta,
tenha muita calma,
vá ao jogo acompanhado com duas pessoas
e quando os PMs barrarem tua entrada
registre por escrito o nome deles
uma das pessos esteja ao teu lado
para ajudar a decorar os nomes
(isto se eles não tirarem as identificações)
e a outra pessoa tire fotos deles
(mas esteja afastada pois conhecemos
a gentileza deles);
depois volte à Inet,
vá a corregedoria, Ministério Público
etcetera.
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