O beijo provocativo que o jogador Emerson divulgou
serviu para abalar um pouco mais as fantasias civilizatórias sobre o alcance do
preconceito na sociedade brasileira. Nem tanto pela reação dos torcedores
(corintianos e adversários), embora ela já fosse bastante grave e elucidativa.
O próprio jornalismo esportivo, tão pretensamente culto e probo, saiu do
armário da homofobia.
Os comentários dos colunistas à ousadia do
atacante oscilaram entre a ofensa mais grotesca e uns resmungos enojados do
tipo “isso não é coisa que se faça”. Quase todas as manifestações carregavam subtextos
preconceituosos. Até as ponderações na linha “nada contra” e “com todo
respeito” acompanhavam, como de hábito, raciocínios e insinuações que diziam
exatamente o contrário.
O comportamento, não custa lembrar, está muito
próximo de outro vício característico do meio futebolístico: o machismo. Piadas
sobre os dotes físicos das árbitras e auxiliares, trocadilhos sexuais e sugestões
de incompetência “genérica” fazem parte do mesmo imaginário que regurgita o
veneno homofóbico.
É fácil lamentar a falta de educação do torcedor. Mas
pelo menos ele pode responsabilizar o mau exemplo alheio. A crônica esportiva posa
de moralista e indignada, mas, no susto, quando as máscaras caem, revela o nível intelectual dessa retidão.
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