A histeria xenófoba contra o programa Mais Médicos
possui três dimensões principais.
Uma é corporativa, bastante notória, e envolve a
reserva de mercado e a arrecadação dos conselhos laborais. Sendo verdade que os
estrangeiros contratados provisoriamente estão isentos dos tributos, digo, das
anuidades cobradas pelas guildas, a preocupação delas com a saúde do povo ganha
uma verossimilhança toda própria.
Outro aspecto, de matizes sociológicos, abarca o
espírito predatório dessas elites ignorantes que regurgitam seu moralismofarisaico e ressentido na internet e que, por diversas razões, predominam em
certas atividades. Os clichês sobre a ditadura cubana, o trabalho “escravo” e a
aparência física dos recém-chegados ilustra bem o repertório argumentativo
desses setores.
E há um terceiro vetor, financeiro, cuja força de
articulação explica o fato dele passar despercebido pelas análises. Trata-se do
feroz lobby dos planos privados. Cartelizando serviços medíocres a preços insultantes,
essas corporações enriquecem graças à falência do sistema público e à falta de
profissionais fora das estruturas conveniadas. Teriam prejuízos, portanto, com
o eventual sucesso do Mais Médicos.
As esferas acima estão interligadas de várias maneiras.
Ou melhor, são faces complementares de uma estrutura ideológica centenária, que
se reproduz em polêmicas úteis de grande potencial manipulador. A área da
saúde, pelos interesses que mobiliza, é bastante afeita a essas personificações.
O espírito dos ataques atuais aos doutores cubanos também colabora para
demonizar o aborto, por exemplo, ou a maconha.
Mas as bravatas dos energúmenos desapareceriam nas
inutilidades cotidianas das redes sociais se não tivessem um poderoso canal de
popularização. Eis o papel dos grandes veículos: o clima político-eleitoral que
há meses permeia os ataques da imprensa tucana a Alexandre Padilha confere
legitimidade e coesão às berrarias grotescas dos seus inimigos. Todos, é claro,
muito preocupados com o bem-estar dos brasileiros.
2 comentários:
Parabéns pela excelente visão política econômica. Não há conflito que foge a este viés. Economia...
Porém, em um país em guerra civil, possivelmente terá resultados medíocre nos grandes centros urbanos.
A dinâmica das emergências é de medicina de guerra, onde o médico decide quem vive e quem morre.
As emergências simplesmente param pela chegada de um baleado...todos os especialistas vão atender este baleado: o buco facial, o ortopedista, o cabeça pescoço, tórax abdome, otorrino, oculista, o cardiologista em suma todos os médicos se dirigem para a sala de operação e a emergência fica a míngua.
O fato é que chegam mais de um baleado e todos os dias...pode ser que eu esteja errado, mas vai continuar faltando médicos enquanto estivermos como Teatro de uma Guerra Civil, globalizada e perdida, que só existe para manter o superávit de nações já enriquecidas por diversas outras guerras... Um grande abraço guilherme!
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