É fácil imaginar a indignação desses
jornalistas-de-crachá (“você sabe com quem está falando?”) que foram
ludibriados pela escala portuguesa da presidenta e ficaram que nem cachorro
bobo, procurando a bola que ninguém lhes jogou. Paparazzi de luxo, talvez ainda
mais cínicos do que os originais, foram impedidos de fabricar suas croniquetas
sobre o jantar da mandatária e saíram esbravejando direitos fofoqueiros.
Ao contrário de outros detalhes convenientemente resguardados nos armários pessoais, os hábitos gastronômicos de Dilma, desde
que pagos com seu salário, são irrelevantes. Ela não se elegeu prometendo comer
rapadura e farinha. A simplicidade que se associa ao santo papa e a alguns
governantes franciscanos possui muito de uma propaganda romântica que dissemina
ignorância acerca do mundo real do poder e incentiva a visão provinciana de que
um líder popular deve chupar ossos de galinha frita.
A turma da fofoca esbraveja porque sabe, por
profissão, o apelo que a vida privada tem sobre o imaginário do público. Bem
trabalhados, o refinamento e o conforto de Dilma colam rótulos antipáticos adequados
à sua imagem, assim como os churrascos e a pinguinha de Lula pareciam melhor
atingi-lo.
O mesmo apelo deveria recair sobre as jujubas do casal FHC e os passeios de Joaquim Barbosa nas luxuosas galerias parisienses.
Mas, claro, sempre que aparece uma dessas os paladinos da privacidade correm
para descortinar intimidades mais relevantes.
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