A expressão “com todo o respeito” daria margem a
profícuas investigações conceituais. Entre as muitas locuções preparatórias de
assertivas críticas, talvez esta seja a que contrarie mais escancaradamente seu
próprio sentido original. Não obstante a superfície ponderada, o reconhecimento
de certo valor do destinatário ou do objeto central da afirmação, o restante da
sentença é invariavelmente contrário a esses pressupostos. E muitas vezes carrega
um flagrante... desrespeito contra o tema.
Curioso notar como a frase aparece mais
frequentemente em certas ocasiões e lugares. Na crônica esportiva é quase um
chavão para tratar de times interioranos, por exemplo. “Com todo o respeito
pelo Ituano” virou um mote das análises bairristas sobre o título que ele
conquistou. E sempre redundam numa desqualificação do clube, inclusive com
requintes ofensivos dos mais preconceituosos.
Como se bastasse incluir um preâmbulo
autolegitimador para que o infeliz destile qualquer bobagem sobre o assunto.
Como se afirmar que “respeita” a vítima autorizasse alguém a insultá-la. Ou,
ainda pior, como se esse cuidado retórico desse um estatuto mais verdadeiro ou
mesmo testemunhal à agressão.
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