quinta-feira, 8 de maio de 2014

O escândalo é o escândalo
















Vinte anos depois de ter a vida arruinada pela imprensa paulista, um dos proprietários da Escola Base acaba de falecer. Quase na mesma época, à saída de Suzana Singer do cargo de ombudsman da Folha de São Paulo, ficamos sabendo que ela foi a responsável pela nefasta cobertura jornalística do caso no veículo.

Não tenho qualquer possibilidade, tampouco o anseio, de julgar as aptidões éticas e profissionais da jornalista. Mas sempre achei sua passagem pelo importante posto de “ouvidoria” um tanto desapontadora, tendo em vista a conivência que demonstrou amiúde com a tendenciosa cobertura que o veículo fez do julgamento da Ação Penal 470.

Tudo ganhou um aspecto muito negativo, porém, com a lembrança de sua participação no caso Escola Base, e ainda através de uma coluna fundada na explicação do erro. Fica a impressão de que os editores-chefes do jornal escolheram um quadro, digamos, “inofensivo” para a função, numa época particularmente atribulada do noticiário político brasileiro. É impossível não suspeitar que as mentiras sobre o chamado “mensalão” tiveram uma acolhida mais generosa do que teriam com outros funcionários de reputação absolutamente ilibada.

Não se trata de supervalorizar uma figura meio propagandística e decorativa que jamais conseguiu impedir, nem mesmo expor, as batatadas históricas da Folha. A questão é o modelo de transparência e de verdadeira autocrítica que o diário está disposto a seguir.

A escolha inicial de Singer, independente de suas qualidades pessoais, foi moralmente questionável, para dizer o mínimo. Que ela depois (e só no final do mandato) justifique a cobertura do episódio Escola Base como um escorregão próprio do ramo evidencia o legado que a tragédia das vítimas deixou ao jornalismo brasileiro: uma noção bastante cômoda e apaziguadora da palavra “escândalo”.

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