Enfim ocorreu a hecatombe da seleção brasileira de
futebol, longamente gestada nas entranhas putrefeitas da cartolagem. Era
questão de tempo: um dia o pragmatismo tosco, a arrogância e a mediocridade
chegariam a uma combinação explosiva que a sorte, a arbitragem e o talento
individual seriam incapazes de neutralizar.
Faltava o desequilíbrio emocional para inflamar
esse caldo melífluo. O patriotismo histérico dos jogadores já não parecia
alvissareiro, principalmente em meio à tola “obrigação” de vencer o título. A
vitimização de Neymar e a falta de comando da comissão técnica terminaram de
ruir a frágil estabilidade do elenco.
A crônica esportiva agora fala em “mudar tudo”, em
“revolucionar” a administração futebolística do país, em “bom senso”. Mas são
palavras ocas. Ninguém aponta soluções práticas ou medidas pontuais e viáveis
que de fato ajudem a reformular o sistema. Há apenas discursos genéricos e propostas
paliativas que seguem os interesses dos grandes times e dos veículos de comunicação,
os maiores apoiadores de José Maria Marin.
Mudanças reais no futebol brasileiro só viriam com
a distribuição igualitária de verbas televisivas, limitações do poder das
emissoras, restrições ao assédio de jovens atletas, regulamentação da atividade
dos empresários, projetos nacionais de apoio a aspirantes, fortalecimento dos
times interioranos, profissionalização da arbitragem, moralização dos tribunais
desportivos, mecanismos de controle das gestões da CBF e dos clubes.
Todas essas mudanças passam por um papel mais
ativo do Estado. Nascem de uma decisão política de tratar o esporte como área
de interesse público, e não um feudo particular de castas inatingíveis que
funciona por regras próprias.
O medinho da imprensa ao enfrentar o assunto não
tem nada a ver com as ameaças da FIFA, que jamais arriscará a desmoralização de
punir um pentacampeão mundial, sede da mais festejada Copa da história. O
fantasma do intervencionismo estatal oculta a tentativa de manter os privilégios
do esquema vexatório. Da mídia não virá qualquer iniciativa moralizadora do
futebol brasileiro.
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