(publicado no Observatório da Imprensa, em 4 de março de 2008)
Luís Nassif está mobilizando a blogosfera com seu Dossiê Veja, série de artigos que denunciam o antijornalismo praticado pela revista nos últimos anos. Envolve interesses corporativos, destruição de reputações, tráfico de influência. Desmascara a diretoria editorial da revista e, principalmente, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Trata-se de estudo avassalador, embora não surpreendente, que precisa ser lido e divulgado.
O material já causou estragos. A Veja esboça uma ligeira mudança de tom nas suas edições semanais e há suspeitas de que ela tem obstruído as ferramentas de busca eletrônica aos conteúdos de matérias e postagens antigas – especialmente as que corroborariam as denúncias. A revista processa Nassif e, aparentemente, utiliza funcionários anônimos (além dos supracitados) para espalhar ataques pessoais a ele.
É compreensível que Nassif tente evitar conotações político-partidárias em sua empreitada. Seria (e continua sendo) cômodo para a revista refugiar-se numa batalha moral contra o “lulo-petismo”. Quando se trata de ética jornalística, entretanto, não cabem desculpas ideológicas.
Mas o público sabe que esse comportamento da Veja também possui um viés eleitoral. Ela é acusada de defender interesses que se beneficiam do poder conferido pelas urnas, a eles próprios ou a terceiros. Se alguém escancara essa contaminação, direta ou indiretamente mexe nas suas motivações. Por isso, é importante não esquecer que o gesto de Nassif insere-se num contexto político, pois assim será tratado pelos detratores.
Os grandes veículos, assim como a Associação Brasileira de Imprensa, fingem que a querela não existe. Não querem se expor a exumações semelhantes, principalmente depois que a Folha de São Paulo foi envolvida num dos episódios denunciados. Os comentaristas abordam a questão com cuidado, sabedores do poder destrutivo de Veja.
Esse comportamento revela muito sobre a categoria. A manipulação teria sido aberta, conhecida por todos, durante anos. E a revista só foi confrontada por iniciativa de um indivíduo isolado que, apesar da força de sua biografia e de seus argumentos, não angariou o respaldo de uma imprensa que se diz combativa e independente (ou melhor, que é combativa e “independente” quando interessa).
Imagina-se que a direção da revista tenha instruído seus advogados a causarem o maior estrago possível, financeiro e pessoal, na vida de Nassif. As despesas são altíssimas, os prazos dilatados, os resultados incertos e as primeiras instâncias, imprevisíveis. A desigualdade de forças resvala na coerção do gigante empresarial que tenta destruir exemplarmente seus desafetos incômodos.
Mesmo assim, parece alvissareira a hipótese do Judiciário ser constrangido a manifestar-se. Passou o tempo de tratar falsos depoimentos, incriminações indevidas, denúncias vazias, deturpações e mentiras como simples efeitos colaterais da liberdade de imprensa. A integridade moral dos indivíduos e o interesse coletivo são protegidos por leis que estão acima de couraças retóricas.
A nobre iniciativa de Nassif não envolve apenas os leitores de Veja, e talvez nem o público genérico de periódicos. Trata-se de esclarecer o uso antiético e quiçá ilegal da grande imprensa para favorecer determinadas facções corporativas ou políticas. Tamanha abrangência só pode ser respeitada por um Poder de envergadura equivalente, conferindo máxima lisura ideológica à decisão.
O desejável sucesso da defesa do jornalista, ainda que custoso e demorado, pode abrir um precedente histórico e contribuir para uma análise profunda sobre o jornalismo nacional.
3 comentários:
Guilherme, comunicamos que publicamos no blog DESABAFO PAÍS a referida matéria.
Um abraço,
Daniel Pearl - editor geral.
Guilherme, sou estudante de jornalismo e achei a matéria pertinente. Se me permite irei coloca-la na íntegra no meu blog com referências para seu blog.
Um abraço
Lívia,
fique à vontade para divulgar o texto.
Um abraço do
Guilherme
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