Em seu ótimo blog, o poeta Antonio Cicero reproduz e elogia um artigo recente de Ferreira Gullar. Tomei a presunçosa liberdade de lhe propor o comentário abaixo.
"Prezado Antonio Cicero, em minha primeira participação neste espaço, que acompanho e divulgo há tempos, ouso discordar de sua posição.
Quem tem estômago para acompanhar as crônicas de Ferreira Gullar já percebeu que seus temores "reginaduartistas" possuem muito do autoritarismo que o grande poeta parece enxergar apenas nos adversários.
O maior equívoco do artista que se manifesta politicamente é acreditar (ou, pior, fingir) que não existem disputas reais e objetivas em curso, como se o desmesurado antilulismo não refletisse também, por exemplo, o elitismo antidemocrático de uma parcela muito específica do espectro político-partidário. Apontei esse vício num texto que Caetano Veloso respondeu com virulência - mas, felizmente, chegamos a termos razoáveis.
Parece-me esquisito querer impedir que um projeto político respaldado pelo voto seja refletido nos escalões inferiores da administração. O “aparelhamento” da máquina pública seria melhor se, em lugar de sindicalistas, os beneficiados fossem burocratas ligados a investidores estrangeiros? Como alguém pode repudiar os planos hegemônicos do PT, se a única maneira de impedi-los (não sejamos ingênuos) pressupõe a eleição de um quadro do PSDB, que há quase duas décadas reproduz o mesmo predomínio no Estado de São Paulo? É possível falar na truculência ou no populismo de Dilma Rousseff tendo José Serra como alternativa?
Claro que aqui a questão do “golpismo” soa um tanto forçada. Mas a discussão ganharia muito se a continuidade do projeto de poder fosse tratada como uma opção democrática e legítima, e se as análises parassem de enxergar na aprovação a Lula apenas a manifestação da ignorância popular ou da esperteza do demagogo.
Receba um abraço deste grande admirador."
3 comentários:
Caro Guilherme.
Permita-me discordar de você quanto à sua admiração por tal poeta e tal blog. Não há arte que resista a esse tucanismo cínico. Tem aquela música do Cazuza: "Eu sou burguês, mas eu sou artista! Estou do lado do povo, do povo!". Poderíamos, nesse caso, cantar assim: "Eu sou artista, mas sou burguês! Estou do lado dos iluminados, dos iluminados!".
Desculpe-me, mas não dá. O texto do Gullar é nojento, e os comentários, hipócritas ao extremo.
Caro Guilherme, vi que vc comentou no meu blog mas não fez seu login na comunidade Pandorama, o que impede a publicação. Por favor faça o login para que eu possa publicar seu comentário. Um abraço, Lula Borges
A criação das agências reguladoras no governo FHC tiveram, na minha opinião,o objetivo de impedir que um partido de esquerda, seja ele qual fosse, pudesse interferir plenamente na administração pública, o que configura, até certo ponto, o confisco de parte do exercício do poder pelo governo de plantão.
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