Depois da febre nacional de farisaísmo que tentou derrubar o governo Lula, fica mesmo difícil apoiar cegamente uma campanha genérica anticorrupção. No país da cultura pirata, dos sonegadores impunes, do trânsito demencial e das licitações arrumadas, ao discurso ético não bastam apenas uma pauta legítima e o pretexto bem-intencionado da militância virtual. É fácil discutir a moral alheia quando selecionamos nossos alvos ou usamos a indignação para ocultar a própria consciência pesada. E é mais cômodo ainda falar de uma ética impessoal, que repudia todo o sistema e por isso não atinge ninguém.
O ambiente reivindicatório que se criou no governo Dilma, embora aproveite os jargões da escandalolatria dos outros anos, possui um componente novo: o foco deixa a esfera política e passa à administrativa. Com o fracasso da estratégia de pintar o então presidente e seus aliados como vates da safadeza nacional, a idéia agora é enfraquecer a imagem de eficácia técnica do governo, reduzindo sua agenda a uma faxina desgastante e interminável. Daqui a vinte anos, o Judiciário putrefeito inocentará o último indiciado, haverá um ato no vão livre do Masp e todos continuarão suas vidas.
Seria justo imputar a setores da própria esquerda a obrigação de morder esse pequi, pois eles ajudaram a colhê-lo quando embarcaram nas pautas da imprensa oposicionista – como se a canseira jornalística da era Lula jamais tivesse ocorrido, como se esses veículos agissem apenas pelo melhor espírito republicano. Já que os novos caras-pintadas consideram absurdo associá-los às elites golpistas, proponho um desafio pedagógico e um sacrifício purificador. O desafio: marcar uma passeata para dia 15 de novembro, defendendo plataformas específicas (fim do voto secreto nos Legislativos, por exemplo) e expondo faixas com menções aos escândalos da hegemonia demotucana em São Paulo. O sacrifício: insistir nessa briga até que o Estadão, a Folha e o Globo contribuam para divulgá-la como fizeram até o momento.
O ambiente reivindicatório que se criou no governo Dilma, embora aproveite os jargões da escandalolatria dos outros anos, possui um componente novo: o foco deixa a esfera política e passa à administrativa. Com o fracasso da estratégia de pintar o então presidente e seus aliados como vates da safadeza nacional, a idéia agora é enfraquecer a imagem de eficácia técnica do governo, reduzindo sua agenda a uma faxina desgastante e interminável. Daqui a vinte anos, o Judiciário putrefeito inocentará o último indiciado, haverá um ato no vão livre do Masp e todos continuarão suas vidas.
Seria justo imputar a setores da própria esquerda a obrigação de morder esse pequi, pois eles ajudaram a colhê-lo quando embarcaram nas pautas da imprensa oposicionista – como se a canseira jornalística da era Lula jamais tivesse ocorrido, como se esses veículos agissem apenas pelo melhor espírito republicano. Já que os novos caras-pintadas consideram absurdo associá-los às elites golpistas, proponho um desafio pedagógico e um sacrifício purificador. O desafio: marcar uma passeata para dia 15 de novembro, defendendo plataformas específicas (fim do voto secreto nos Legislativos, por exemplo) e expondo faixas com menções aos escândalos da hegemonia demotucana em São Paulo. O sacrifício: insistir nessa briga até que o Estadão, a Folha e o Globo contribuam para divulgá-la como fizeram até o momento.
2 comentários:
Guilherme, passei de bike na Paulista para dar uma olhada na passeata.
É medíocre, um movimento despolitizado, desqualificado e elitista sim(só tinha gente branca soltando frases genéricas e vazias), sem falar no número pífio de pessoas. Nunca vi uma coisa tão banal quanto aquela.
O pior é ver gente do PSTU e outras esquerdas lá no meio planfletando para aquele público tão alienado, aquela classe média desinformada e papagaia dos telejornais.
Sem falar nos outros livretos que fui recebendo no caminho, um deles pretendia dar uma fórmula teórica perfeita para a democracia - se intitulava "democracia pura", não consegui passar da primeira página de tão tosco que era.
Felipe
Oi Felipe, seu depoimento é muito importante. Como escrevi, acho que a banalidade do protesto vem do seu caráter generalizante. Pautas específicas, de valor prático, poderiam pelo menos ajudar a confluir os esforços e os debates.
Um abraço do
Guilherme
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