terça-feira, 15 de novembro de 2011

Falácias que ocuparam o debate



Publicado num debate promovido pelo Amálgama

É fácil demonizar o protesto na USP, inclusive porque seus próprios artífices optaram pelo confronto generalizado e ignoraram os exemplos organizacionais deixados por atos similares bem-sucedidos. Mas o movimento precisa de críticas sensatas, não das abordagens simplificadoras, preconceituosas e estreitas que vemos dominar a polêmica. A fragilidade dos principais argumentos usados contra a ocupação revela-se quando os invertemos para atingir seus adversários.

Burgueses mimados

Seria divertido brincar com o significado psicológico desse ataque (inveja, rancor de classe, identificação negativa), mas de fato ele serviria para uma enorme parcela dos alunos de qualquer universidade do país. Entre as justificativas do policiamento ostensivo existe a de salvaguardar os bens que o papai e a mamãe compraram, certo? E o que dizer da passividade apolítica da maioria bem nutrida, tão pequeno-burguesa em seu conformismo?

Representatividade

Geraldo Alckmin é quem precisa tomar lições de democracia. Pois setenta malucos organizados possuem muito mais legitimidade que um reitor biônico e seus asseclas de gabinete, impostos à revelia de milhares de pessoas. Ótimo que as pesquisas de opinião no campus abordem um tema sensível como o da segurança. Mas que tal averiguar quantos alunos gostariam de eleger os administradores da universidade ou de escolher onde aplicar as fortunas em dinheiro público? E as lideranças do movimento estudantil podiam abandonar o cômodo silêncio diante da adversidade alheia para expor seus próprios critérios de participação e respaldo popular.

O império da lei

A maconha é proibida, azar dos marofeiros vagabundos. Desobediência civil os cambau. Mas então sejamos legalistas de verdade: aproveitemos a presença dos bravos soldados e encarceremos todos os que violarem direitos autorais, copiando livros e apostilas, traficando músicas e filmes pela internet, comercializando cedês piratas e obras usadas. Cana para quem vender alimentos sem aval das autoridades competentes. Aliás, como demonstrou ao criminalizar a Marcha da Maconha, o Judiciário está sempre certo. Ninguém deve contrariar os sábios juízes. Se impuserem uniformes para os estudantes, revistas periódicas nos corredores e toques de recolher, acatemos em silêncio.

A polícia democrática

O espetáculo dantesco dos quatrocentos cossacos brandindo escudos e bombas de gás, apoiados por helicópteros, cavalaria, ônibus e camburões, foi um primor do espírito republicano paulista. Ordens judiciais e forças de segurança, como se sabe, existem para garantir os fundamentos do Estado de Direito. Mesmo quando se trata do espaço público: resistiu, merece apanhar. É com esse raciocínio que todos aplaudiremos as violências, digo, as operações táticas das tropas que varrerem os baderneiros que ocupam as praças ao redor do planeta. Ou eles pensam que estão acima da lei?

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