sexta-feira, 25 de julho de 2025

O preço da conciliação

 

Os seis anos de regime lavajatista foram dedicados à inviabilização de futuros projetos de poder da esquerda. Fizeram parte da estratégia o ataque ao legado programático do lulismo e a manutenção da hegemonia dos conspiradores de 2016 e 2018.

O segundo objetivo, incorporado pela astuciosa fobia à polarização, teve maior eficácia. Lula está cercado por inimigos de outrora, tanto nos ministérios que precisou lotear entre golpistas quanto nos parlamentares “aliados” que sabotam seu governo.

Tudo isso administrando os retrocessos irreversíveis do golpe e toureando a indignação resultante. Eis a cláusula diabólica do pacto conciliador: Lula responde por uma ruína cujos autores o parasitam. E só pode amenizá-la sacrificando agendas progressistas.

Esses fatos não o isentam de responsabilidades. Sua teimosa ortodoxia amiúde leva a um conservadorismo arcaico, improdutivo e desmobilizador. A obsessão frenteamplista reduz a esquerda a “centrinho”, assessório da direita, apartado das bases históricas.

Mas é tolice afirmar que Lula poderia ter realizado alguma coisa antagonizando com três quartos do Congresso desde o início da gestão. Ou, pior, que o inevitável desastre dessa loucura fosse positivo, capaz de levantar o povo em defesa dos valores socialistas.

O ônus da pacificação não envolve a tal governabilidade. Envolve a baixa aprovação a Lula, inferior ao que seria razoável esperar de seus índices sócio-econômicos e de seus afagos a setores ideológicos majoritários no país. É essa conta que não fecha.

As pesquisas mostram os eleitores cada vez menos predispostos a valorizar o combate à miséria, a responsabilidade fiscal e o discurso apaziguador de Lula. A oposição cresceu, radicalizando-se, enquanto o governo fazia de tudo para não confrontá-la.

A fatura da conciliação já estava sendo paga muito antes da crise do IOF. A harmonia entre as curvas da rejeição a Lula e as de evangélicos, por exemplo, vem de longe. E espelha o predomínio dos herdeiros midiáticos e institucionais do golpismo lavajatista.

As circunstâncias que impuseram os acordos com o “direitão” fisiológico demandavam também um plano para reduzir seu alcance popular em curto prazo. No mínimo através de contrapontos oficiais aos valores obscurantistas disseminados por esse grupo.

A monologia sectária da extrema-direita, ajudada pela manipulação das redes digitais, abalou os benefícios eleitorais da cautela governista. A ponto de Lula ser demonizado por bandeiras que rejeitava exatamente para não atrair o repúdio dos conservadores.

Não surpreende que, sob ataque tarifário dos EUA, a mídia corporativa esteja clamando pela moderação do governo. Todos ali sabem que a imagem de Lula melhora quando ele assume posturas combativas, desestabilizando as bolhas do extremismo fascista.

Mas a oportunidade embute uma armadilha. Patriotismo sem politização é apenas um elo na corrente reacionária. Cabe aos governistas impedir que o imperativo da prudência diplomática se transforme, de novo, em esteio dos parasitas da democracia.

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