Os seis anos de regime lavajatista foram dedicados à inviabilização de futuros projetos de poder da esquerda. Fizeram parte da estratégia o ataque ao legado programático do lulismo e a manutenção da hegemonia dos conspiradores de 2016 e 2018.
O segundo
objetivo, incorporado pela astuciosa fobia à polarização, teve maior eficácia.
Lula está cercado por inimigos de outrora, tanto nos ministérios que precisou lotear
entre golpistas quanto nos parlamentares “aliados” que sabotam seu governo.
Tudo isso
administrando os retrocessos irreversíveis do golpe e toureando a indignação
resultante. Eis a cláusula diabólica do pacto conciliador: Lula responde por
uma ruína cujos autores o parasitam. E só pode amenizá-la sacrificando agendas
progressistas.
Esses fatos não o
isentam de responsabilidades. Sua teimosa ortodoxia amiúde leva a um
conservadorismo arcaico, improdutivo e desmobilizador. A obsessão
frenteamplista reduz a esquerda a “centrinho”, assessório da direita, apartado
das bases históricas.
Mas é tolice
afirmar que Lula poderia ter realizado alguma coisa antagonizando com três
quartos do Congresso desde o início da gestão. Ou, pior, que o inevitável
desastre dessa loucura fosse positivo, capaz de levantar o povo em defesa dos
valores socialistas.
O ônus da
pacificação não envolve a tal governabilidade. Envolve a baixa aprovação a Lula,
inferior ao que seria razoável esperar de seus índices sócio-econômicos e de
seus afagos a setores ideológicos majoritários no país. É essa conta que não fecha.
As pesquisas
mostram os eleitores cada vez menos predispostos a valorizar o combate à
miséria, a responsabilidade fiscal e o discurso apaziguador de Lula. A oposição
cresceu, radicalizando-se, enquanto o governo fazia de tudo para não
confrontá-la.
A fatura da
conciliação já estava sendo paga muito antes da crise do IOF. A harmonia entre as
curvas da rejeição a Lula e as de evangélicos, por exemplo, vem de longe. E espelha
o predomínio dos herdeiros midiáticos e institucionais do golpismo lavajatista.
As
circunstâncias que impuseram os acordos com o “direitão” fisiológico demandavam
também um plano para reduzir seu alcance popular em curto prazo. No mínimo
através de contrapontos oficiais aos valores obscurantistas disseminados por esse
grupo.
A monologia sectária
da extrema-direita, ajudada pela manipulação das redes digitais, abalou os
benefícios eleitorais da cautela governista. A ponto de Lula ser demonizado por
bandeiras que rejeitava exatamente para não atrair o repúdio dos conservadores.
Não surpreende
que, sob ataque tarifário dos EUA, a mídia corporativa esteja clamando pela
moderação do governo. Todos ali sabem que a imagem de Lula melhora quando ele
assume posturas combativas, desestabilizando as bolhas do extremismo fascista.
Mas a oportunidade embute uma armadilha. Patriotismo sem politização é apenas um elo na corrente reacionária. Cabe aos governistas impedir que o imperativo da prudência diplomática se transforme, de novo, em esteio dos parasitas da democracia.
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